23 maio 2009

Uma Tirinha no Pedaço [cinco]

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

08 abril 2009

Uma Tirinha no Pedaço [quatro]

FAGUNDES & ANACLETO
 Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

03 abril 2009

A Arte do Floreado – ou ‘Como Falar Muito Sem Dizer Nada!’

--Mensagem original----­
De:...................... Jocenir
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 12:10
Para:................... Adelaide; Aderiana; Alfonsus; Anaximandro; Badenpaulo; Carlous; Carolyne; Cellio; Darcy; Dyrci; Doniseth; Edsan; General; Edii; Italio; Itamaran; Horje; Joseph; Katina; Luanita; Louis; Marcus; Marildah; Marion; Megan; Raymund; Richardón; Roberio; Rosalena; Soraya; Sândara; Sergitho; Silvanie; Tomazo; Vanderelei; Willianson;
Assunto:............. teste


teste de lista de distribuição - por favor acuse recebimento.

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--Mensagem original----­
De:...................... Anaximandro
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 12:36
Para:................... Jocenir
Assunto:............. ENC: Resposta ao teste


Caro Joce, o Menir!

É com grande satisfação que acuso o recebimento de sua graciosa comunicação. Aguardo ansioso por novos contatos, tão gratificantes e condutores de indescritíveis, auspiciosos e vitais bálsamos reconfortantes.

Seu criado e discípulo
Anaximandro.


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--Mensagem original----­
De:...................... Jocenir
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 13:55
Para:.................. Anaximandro
Assunto:............ RES: ENC: Resposta ao teste


Insígne e Conspícuo Anaxi

A programação funcional sistemática de uma lista de distribuição centrada na observância perpendicular redirecionada de seus componentes exige uma postura vertical quanto à retroação logística da mesma, é claro que se observada toda a progressividade permissiva de sua estrutura transacional de uma forma em que a planificação bilateral condensada dispensa toda a pompa usada na resposta dessa mensagem, o que acaba ocasionando uma projeção central insumida inócua.

um abraço
Jocenir

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--Mensagem original----­
De:...................... Anaximandro
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 14:23
Para:................... Jocenir
Assunto:............. RES: RES: ENC: Resposta ao teste


Meu guru!

Aos tolos, aos apalermados, aos obtusos e estreitos de visão, aos reticentes à magnitude da sapiência, aos ocos de coração e alma, aos desprovidos de luz e de vontade, aos alijados de qualquer esteio de caráter, aos desesperançosos, aos párias e aos proscritos; aos sedentos de fé, aos ávidos de sabedoria, aos retos de coração mas frágeis de vontade, aos ricos de virtudes mas distorcidos de objetivos, aos humildes mas mal orientados; a todas estas criaturas, todas, sem exceção, reproduzirei tão profundas e magnânimas palavras, e tornar-me-ei signatário e portador de tão sublimes ensinamentos, bálsamos reconfortadores de tantas e dolorosas feridas que assolam nossas almas cansadas e sedentas de luz.

Seu fiel seguidor
Anaximandro.


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[cutuco]
— Quié?
— Disfarça, que o chefe tá olhando!
— Putz!

01 abril 2009

Uma Tirinha no Pedaço [três] - atrasada tipo bicho!

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

29 março 2009

Sobre Sótãos, Escritórios e Outras Lembranças!

Aproximadamente 400 volumes de livros e revistas que um dia fizeram parte da biblioteca de meu pai estão hoje, por empréstimo à família, à minha frente, mal acomodados nas prateleiras de duas estantes que ocupam toda uma parede do escritório aqui de casa. Por empréstimo, pois ainda são da família, estão aqui porque fiz questão de mantê-los comigo e também porque nenhum dos meus irmãos tinha espaço suficiente para acomodá-los.

Cresci enfurnado no escritório[1] apertado da casa de meus pais, onde se misturavam livros, revistas, mesa para desenho, banqueta, rolos de papel vegetal, escrivaninha, cadeira, uma caixa enorme para guardar as plantas com projetos arquitetônicos, réguas de todo tipo e tamanho e, ocupando quase meia parede, prateleiras lotadas de canetas e penas para desenho, vidros de tinta nanquim, lápis, borrachas e tudo o mais que se utilizava na época em desenho técnico, a maioria acondicionada em caixinhas de metal com tampas de dobradiças, que originalmente embalaram lápis >>LOTUS<<, da Johann Faber. Uma destas caixinhas está aqui ao lado do teclado, com algumas canetas para nanquim com cabos coloridos, e um compasso tira linhas. A última vez que usei uma destas canetas bico de pena foi em meados da década de 70, durante uns três ou quatro dias em que fiquei de molho num quarto do sótão[2] por conta de uma virose qualquer dos tempos de juventude, quando rabisquei uma folha de cartolina que acabou virando um quadro, pendurado na parede atrás de mim.

Ainda hoje estes livros, tão familiares, com capas descoradas, amareladas, muitas delas estragadas pelo uso ou carcomidas pelo tempo – são livros das décadas de 30, 40 e 50 – trazem à memória a lembrança de bons momentos passados naquele canto muito especial da nossa casa, lendo vários destes mesmos livros hoje na minha estante, folheando revistas, navegando pelo mundo e pelo espaço nas páginas dos atlas[3] e devorando Seleções do Reader’s Digest.

Por estes dias, acabei folheando novamente uma daquelas revistas, a Revista Esso, uma publicação bimestral da Esso Standard do Brasil Inc., com Théo de Castro Drummond como Redator-Responsável. A melhor analogia que me ocorre é que ela seria uma espécie de Superinteressante daquela época, com a diferença de haver muitos artigos sobre obras do governo e sobre trabalhos de pesquisa e desenvolvimento da própria Esso. Tenho comigo 19 números, do 3º bimestre de 1956 ao 4º bimestre de 1960, com 7 números faltando neste intervalo. Em média 12 matérias em 24 páginas de folhas grossas, já meio amareladas. O que desencadeou estas memórias foi uma matéria no exemplar do 3º bimestre de 1957 – exatamente da minha idade, portanto – sob o assunto “Pioneiros da Indústria: Aparelhos de Ótica e Precisão”, que transcrevo literalmente:

"Em 1940, um rapaz de Santos (S. Paulo) escreveu ao Pre­sidente da República, apresentando um novo modêlo de telêmetro de depressão se propondo a fabricar aquêle ins­trumento – que até então era importado – para a Artilharia de Costa. Seis meses depois, era chamado à presença do Ministro da Guerra, para explicar detalhes do projeto. E demonstrou tamanha convicção da exequibilidade de seu plano, que voltou à sua terra com ajuda oficial para iniciar o trabalho. Seu nome: Décio Fernandes Vasconcelos.

Surgiu, aí, o primeiro grande problema: o rapaz tinha idéias, tinha mesmo algum dinheiro, mas não tinha onde fa­bricar o telêmetro, nem pessoal especializado. Isso, porém, não seria obstáculo. Décio lembrou-se de que, em 1922, com 13 anos de idade, fabricara no porão da casa de seus pais um rádio-receptor. Por sinal, na época, aquêle aparelho era privativo do Exército e por isso o pai do "inventor" teve de dar explicações à Justiça. Em segui­da, Décio (que tinha um comportamento "diferente" dos meninos de sua idade) foi levado pelo progenitor a um médico, para saber como andavam suas faculdades mentais...

Agora, para fabricar um aparelho ótico que se rivalizasse com o importado, era preciso um pouco mais do que um simples porão. Tratou de mudar-se para São Paulo e comprou oficina, na rua Mauá, onde começou o trabalho. Tempos depois, voltou à presença das autoridades mi­litares, levando debaixo do braço o primeiro telêmetro fa­bricado no Brasil. E o aparelho, submetido à prova, demons­trou ser tão bom ou melhor do que o importado.

Hoje, aquêle moço de Santos possui a única fábrica sul­-americana (e sétima, em importância, de todo o mundo) de aparelhos de ótica e precisão. Ali, sob a supervisão do próprio Décio, perto de quinhentos operários e dezenas de en­genheiros especializados produzem, além do telêmetro de precisão, 81 outros produtos, entre os quais binóculos, lunetas oftálmicas, teodolitos, lentes para projeção de cinemascópio, máquinas fotográficas e o poliópticon – um brinquedo muito interessante e de múltiplas aplicações, cuja licença para fa­bricação na América do Norte já foi solicitada por duas conhecidas firmas especializadas dos Estados Unidos.”

Eis que, ao bater o olho na foto da linha de montagem, algo chamou a atenção: aquelas caixinhas com cara de bonecos de olhos e boca arregalados não me eram estranhas! Pois, ali estava registrado para o futuro a linha de montagem das máquinas fotográficas modelo Kapsa, do tipo caixinha, e eu tenho comigo uma dessas, também herdada de meu pai, embalada em sua caixa original e devidamente acompanhada do seu manual!

Liguei para minha mãe, e ela confirmou que muitas das fotos antigas que ela tem guardadas em álbuns e caixas, foram batidas com esta máquina. Fabricada na década de 50, era robusta e resistente a quedas. De funcionamento simples, apenas três ajustes manuais de abertura do diafragma e duas velocidades de disparo, uma delas também manual, determinada pelo tempo que se mantém o disparador pressionado, e para ver a imagem pelos visores era necessário segurá-la na altura da barriga.

Está em bom estado de conservação e, apesar de um pouco de poeira, nenhum dano aparente em seu mecanismo e suas peças. Acredito que ainda deve bater boas fotos, se encontrar o filme recomendado. E é claro, também precisa descobrir quem o revele! Quem sabe um dia, quando bater novamente a nostalgia de um tempo muito bom, de tantas e tão boas lembranças!


_________________________Notas de rodapé:
[1] – A simples palavra escritório exerce sobre mim um fascínio difícil de explicar. Sempre me lembrou livros, pesadas mesas com muitos papéis, lápis, canetas, luminária de mesa e máquina de escrever que, de uns tempos pra cá, foi substituída pelo computador. Acho estranho uma casa sem escritório, senão uma peça exclusiva, mas pelo menos um canto com prateleiras, livros e uma mesa para trabalho.
[2] – Tenho fascínio também por sótãos, e isso é uma coisa mal resolvida na minha vida! Morei em uma casa com sótão por poucos anos durante a juventude, e depois de adulto morei ano e pouco num quarto de pensão, também no sótão. Depois disso, casa, apartamento e casa novamente, com dois pisos, mas sem sótão. Acabei privando meus filhos de sentir o prazer de dormir num sótão, embalado pelo barulho de chuva em telhas de barro. Terei que conviver com isso para todo o sempre!
[3] – Atlas é caso de obsessão mesmo, tenho vários, desde aqueles da minha infância até os adquiridos mais recentemente, quando imaginei que meus filhos herdariam o gosto. Mas aí apareceu um tal de computador e uma tal de Internet, e nada mais aconteceu como combinado. Eles até folhearam seus atlas escolares, que acabei herdando deles, mas não passaram disso. Pena, também não sentiram o prazer de descobrir o mundo e o universo nas mágicas páginas de um atlas.

16 março 2009

Uma Tirinha no Pedaço [dois]

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

08 março 2009

Quem Disse Que Escrever Esclarece?

É comum falarmos uma coisa e as pessoas entenderem outra. Constantemente temos que repetir, chamar a atenção, explicar uma, duas, várias vezes. Às vezes, é como se fôssemos alienígenas, por mais que nos expliquemos menos nos entendem. Bem, na verdade não sei se é assim com todo mundo, mas comigo é. Tenho tendência a ser prolixo nas minhas argumentações ou narrativas. Sinto necessidade de explicar como as coisas chegaram até aquele ponto ao qual me refiro, considero importante situar o objeto da discussão. Essa característica já virou folclore entre meus amigos de convívio mais próximo. Já quando escrevo consigo me policiar, mesmo porque posso pensar o texto como um todo, reler, reescrever, reordenar o pensamento, enfim, trabalhar com calma aquilo que quero exprimir. Este deve ser um dos motivos pelos quais escrevo tão pouco, ou bem menos do que gostaria.
Há poucas semanas, depois de acalorada discussão sobre um assunto muito caro a mim e a um grupo de bons amigos, com quase quatro décadas de convivência, senti a necessidade de registrar no papel aquilo que eu pensava sobre o assunto em questão. Aquela não era a primeira vez que discutíamos, e a cada vez, menos nos entendíamos. Como de certa forma eu fui o pivô da discussão, e de tanto discutirmos meus argumentos iniciais já estavam com sentido completamente oposto à realidade, peguei do papel, ou melhor, do teclado, registrei para a posteridade e enviei por email o meu sentimento sobre os problemas que motivaram nossos desentendimentos, literalmente do tipo discutindo a relação!
Bem, aqui entra o motivo do post. Enquanto escrevia aquela carta aberta, numa verdadeira batalha com as palavras para que não restasse uma única possibilidade de dúvida quanto ao meu posicionamento, lembrei de alguns autores que, por competência e genialidade, escreveram com o objetivo oposto, ou seja, para não esclarecer, no intuito de protestar, como fez Zé da Luz no início do século passado, quando escreveu o poema Ai! Se Sesse!, dizem, “... de tanto ouvir as pessoas dizerem que para escrever um poema de amor deveria fazê-lo com o português correto e palavras rebuscadas...”, ou com a clara e manifesta intenção de instigar os sentimentos [como costuma dizer um professor de literatura que conheço, “... para dar um soco na boca do estômago do leitor!”], como fez Jorge de Sena [mais sobre ele aqui] ao escrever uma obra prima chamada Quatro Sonetos a Afrodite Anadiómena.
Nas palavras do autor, o significado semântico das palavras nos sonetos dá lugar à percepção de sentidos pela imagem e pela sonoridade, e ele não poderia ter sido mais feliz em seu objetivo. Claro que as pessoas os percebem de maneiras distintas, enquanto alguns se emocionam ao lê-los, como eu, outros se valem da lógica ou da lingüística para tentar entendê-los. Não importa. Não quero aqui discorrer sobre esta obra, que já foi objeto até de dissertação de mestrado, centenas de outros já o fizeram com muita propriedade. Eu a transcrevo apenas como forma de registro do que se pode fazer com as palavras quando se sabe escrever.
I
PANDEMOS
Dentífona apriuna a veste iguana
de que se escalca auroma e tentavela.
Como superta e buritânea amela
se palquitonará transcêndia inana!


Que vúlcios defuratos, que inumana
sussúrica donstália penicela
às trícotas relesta demiquela,
fissivirão boíneos, ó primana!


Dentívolos palpículos, baissai!
Lingâmicos dolins, refucarai!
Por manivornas contumai a veste!


E, quando prolifarem as sangrárias,
lambidonai tutílicos anárias,

tão placitantos como o pedipeste.
II
ANÓSIA
Que marinais sob tão pora luva
de esbanforida pel retinada
não dão volpúcia de imajar anteada
a que moltínea se adamenta ocuva?

Bocam dedetos calcurando a fuva
que arfala e dúpia de antegor tutada,
e que tessalta de nigrors nevada.
Vitrai, vitrai, que estamineta cuva!

Labiliperta-se infanal a esvebe,
agluta, acedirasma, sucamina,
e maniter suavira o termidodo.

Que marinais dulcífima contebe,
ejacicasto, ejacifasto, arina!...
Que marinais, tão pora luva, todo...
III
URÂNIA
Purília emancivalva emergidanto,
imarculado e róseo, alviridente,
na azúrea juventil conquinomente
transcurva de aste o fido corpo tanto...

Tenras nadáguas que oculvivam quanto
palidiscuro, retradito e olente
é mínimo desfincta, repente,
rasga e sedente ao duro latipranto.

Adónica se esvolve na ambolia
de terso antena avante palpinado.
Fimbril, filível, viridorna, gia

em túlida mancia, vaivinado.
Transcorre uníflo e suspentreme o dia
noturno ao lia e luçardente ao cado.
IV
AMÁTIA
Timbórica, morfia, ó persefessa,
meláina, andrófona, repitimbídia,
ó basilissa, ó scótia, masturlídia,
amata cíprea, calipígea, tressa
de jardinatas nigras, pasifessa,
luni-rosácea lambidando erídia,
erínea, erítia, erótia, erânia, egídia,
eurínoma, ambológera, donlessa.
Áres, Hefáistos, Adonísio, tutos
alipigmaios, atilícios, futos
da lívia damitada, organissanta,
agonimais se esforem morituros,
necrotentavos de escancárias duros,
tantisqua abradimembra a teia canta.
E no que deu o que escrevi? Pois, as coisas ainda não ficaram totalmente esclarecidas! Mas, pelo menos, saio da empreitada com um consolo e uma certeza. Consolo, por saber que, a qualquer momento, posso dizer que as minhas palavras estão lá, escritas, preto no branco, para que não restem dúvidas. E a certeza que ainda tenho um longo caminho a percorrer até aprender a me comunicar com mais clareza.

PS.: Se me dão licença, vou ali no canto ler Machado de Assis e outros notáveis para ver se aprendo alguma coisa. Pode ser que eu demore um pouco a voltar...

22 fevereiro 2009

Uma Tirinha no Pedaço [um]

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

Clênio Souza, artista.

Artista plástico, professor de artes, escultor, cartunista, poeta e desenhista, Clênio Tadeu Paz de Souza nasceu em 1958 em Urubici. No início dos anos 60 sua família mudou-se para Lages, SC. De origem humilde, começou a desenhar aos sete anos de idade quando, ao acompanhar seu pai ao trabalho, numa madeireira, ganhou alguns pedaços de carvão. Foi o suficiente para que o mundo das cores e das formas ganhasse vida através de sua imaginação. Pintor autodidata, tornou-se um dos nomes mais conhecidos no surrealismo do Estado, e teve em Martinho de Haro um de seus maiores incentivadores. Seus quadros já foram expostos nas capitais e em várias outras cidades do sul do país, em cerca de 100 exposições individuais e coletivas. Faleceu na manhã de segunda-feira, 29 de maio de 2006. (Fonte: biografia escrita por Raul Arruda Filho)

Foi exímio caricaturista. Segundo relato de um amigo, era comum Clênio participar de reuniões nas quais passava o tempo rabiscando em papéis e, ao final, vários participantes viam-se retratados nos traços firmes inconfundíveis do artista.

Um de seus trabalhos como cartunista foi a criação dos personagens Fagundes & Anacleto, publicados originalmente no hebdomadário O Momento. Com traços fortes e rústicos, registrou semanalmente em apenas três quadros a vida pitoresca de Fagundes, um gaúcho bronco e beberrão, mais grosso que dedão destroncado - grosso tipo bicho, nas palavras do seu criador, e seu inseparável parceiro de balcão de boteco, Anacleto, um porco esperto prá mais de metro. A simplicidade e atenção a pequenos detalhes são características marcantes do seu desenho.

Nas tirinhas estão representados costumes regionais, lugares e personalidades locais, incluindo o próprio semanário que o hospedava, palavreado gaudério [com erros de grafia e concordância], fatos insólitos que só acontecem em balcão de bar, e todo tipo de grosseria que um legítimo chiru casca grossa possa praticar!

Nasce hoje neste espaço a série Uma tirinha no pedaço, com as aventuras e as desventuras de Fagundes & Anacleto, grosso tipo bicho!

01 janeiro 2009

Qualidade de Vida – ou ‘Os Ratos da Cidade Vão ao Campo Passear!’

É sábado, 27 de dezembro, início da tarde. A estrada sinuosa forrada de pedras, cortando um campo amarelado de trigo recém colhido, obriga um ritmo lento e cuidadoso. A ansiedade agora é de chegar o quanto antes, para aproveitar melhor o fim de semana. Saindo da estrada logo depois da ponte e tomando um caminho estreito em subida, quase uma trilha no meio de campo e matos, deixamos para trás esta vista do trigal ao longe, que disputa espaço com plantações de pinheiro americano. Nada é perfeito. É pena, pois nesta região de uma beleza sem igual, o pinus se alastra como peste.

Junto conosco, minha esposa e eu, estão nossa filha mais nova e um grande amigo, irmão de coração, momentaneamente desgarrado da sua família. Estamos a caminho do sítio de outro bom amigo que, por excesso de confiança, há tempos nos deu cópia das chaves dos portões que fecham os terrenos vizinhos que temos de atravessar. Da casa não nos deu cópia da chave porque a porta permanece fechada, mas não trancada. Quem chega, gira a maçaneta e entra. Ele e a esposa ficarão por lá até início de janeiro e nos convidaram a aparecer, mas não sabem que estamos indo. Reforçamos a despensa e a cerveja já vai no isopor com gelo. Nem precisa avisar, somos sempre bem vindos.
Estes momentos no sítio, que chamamos de estância, não têm preço. O valor da paisagem, da natureza intacta, da boa companhia, da conversa fácil, descompromissada, séria ou bem humorada, regada a café, cerveja gelada ou chimarrão, não se mede nem se conta. São momentos que existem e pronto. Nós os vivemos, usufruímos, eles nos alimentam e nos unem, e crescemos como gente e como amigos. Simples assim.
Ainda no sábado, final de tarde, quase sete horas, uma caminhada de 20 minutos até a cachoeira para desenferrujar as juntas. O sol estava baixo e não iluminava mais a cachoeira [por isso a má qualidade das fotos], com seus paredões de pedra no formato de uma ferradura e a queda d’água com uns 9 metros de altura. Água rala, muito tempo sem chuva consistente, mas ainda assim uma bela vista. Ajeitar-se nas pedras e pensar na vida ouvindo a música da cachoeira foi um convite pro cochilo, que não aconteceu por causa das pedras jogadas na água para molhar os incautos! Coisa de crianças cinquentonas... Em tempos normais, as pedras onde eu me encontrava ficam cobertas pela água, e o espetáculo da cachoeira é de extasiar.

No domingo de manhã, sob um sol cozinhante, o trabalho pesado de reforçar o portão antigo de madeira bruta pintada de branco e substituir os palanques que o sustentam, e esticar os fios de arame farpado. Terminamos exaustos, mas satisfeitos pelo serviço bem feito. À tarde, depois de um arroz com galinha preparado no capricho pelo nosso amigo desgarrado, um banho de chuva – coisa de crianças, claro – que caiu só o suficiente para amenizar um pouco o calor.

A volta para casa foi como sempre é, um tanto melancólica, pois sempre queremos ficar mais um pouco, e também muito tranqüila, pela satisfação da saída da rotina, do convívio amigo e fraterno, e da paisagem de um fim de tarde de verão, que proporciona, entre tantas coisas, um olhar diferente sobre aquela imagem da vinda no dia anterior.

Como sempre se despede o Brancaleone, um assíduo freqüentador da blogosfera, para fazer inveja a nós, ratos da cidade, só resta dizer:
— Sorry, urbanóides!