12 janeiro 2011

O Dia Zero

Os gestores observam com interesse a movimentação no Hall do Futuro. Cada um deles tem à sua frente a imagem, em dimensões reais, do magnífico ambiente construído especialmente para guardar uma cápsula cilíndrica de titânio e cristal que paira, graciosamente girando à altura dos olhos dos convidados, a cerca de um metro acima do Pedestal da História, que foi ofertado há 50 anos pela Governadoria Mundial na comemoração de um Quarto de Milênio de existência da hoje tricentenária instituição presente em todos os quadrantes estelares, a Grande Xis. O Hall, uma imensa estrutura circular com paredes altíssimas, brancas e brilhantes, e que em seu centro abriga tão somente o sofisticado pedestal e seu peculiar e levitante artefato, simboliza um futuro que se oferece a que cada um escreva o seu próprio destino. Cotidianamente é visitado por pessoas que buscam um local calmo para reflexão, mas hoje está lotado por convidados, curiosos e colaboradores da Grande Xis e, no entanto, ouve-se apenas um leve rumor de ansiedade. Assim como pelos gestores ausentes, o evento está sendo acompanhado em tempo real por personalidades de todos os mundos do sistema planetário sob a justa e soberana governança do Supremo Conselho Estelar. O interesse se dá menos pela importância da instituição, nascida no longínquo século dezenove numa colônia imperial portuguesa, há décadas transformada numa entidade universal, mas muito mais pelo singular ato de abertura daquele objeto de formas anacrônicas e materiais obsoletos chamado de Cápsula do Tempo, há 150 anos guardado como um dos bens de maior valor da instituição. O dia 12 de janeiro de 2161 é uma data emblemática. Um século e meio de espera por este momento justifica todo o interesse e a curiosidade da comunidade estelar.

Presentes fisicamente apenas a Grande Gestora, uma afável e sorridente senhora de cabelos brancos e gestos suaves, e o Primeiro Urbe Gestor que comanda todas as operações realizadas no terceiro planeta. Os demais gestores os acompanham neste ato de suas respectivas bases planetárias, projetados holograficamente junto a eles circundando o pedestal. A um sinal da Grande Gestora, a energia do pedestal é desativada e a cápsula lentamente pára de girar e desce, como que suspensa por fios invisíveis, até encaixar-se em apoios luminosos sobre o pedestal. É um objeto curioso. Parece maior assim, parada, ao alcance das mãos.

Desde a divulgação pública da sua existência e do audacioso objetivo proposto pela diretoria, a cápsula foi protagonista de inúmeros episódios, que variaram do curioso e pitoresco ao aventureiro e espetacular. Nos primeiros anos a própria instituição encarregou-se de divulgar a singularidade desta iniciativa, única em seu grau de importância, dentro de suas unidades e em campanhas publicitárias. O interesse da grande mídia nunca desapareceu com o passar dos anos, e volta e meia a cápsula estrelava algum programa especial, era tema ou protagonista de filmes de aventura, ou recebia visitas importantes que profetizavam a sua sobrevivência ao tempo e às inconstâncias humanas.

E assim o tempo passou... A cada década decorrida lá estava ela, a solene e impassível Cápsula do Tempo, que emergia de seu mostruário de vidro para as telas e outdoors nas comemorações institucionais e em notas e reportagens na mídia que, invariavelmente, salientavam o tempo que ainda restava de espera para o dia de hoje, o Dia Zero.

A outro sinal da Grande Gestora, a cápsula foi cuidadosamente aberta. O conteúdo, conhecido desde sempre, os originais de contos, poesias, fotos e músicas, todas produzidas por antigos colaboradores da instituição, foi exposto ao público. Aleatoriamente, leu um dos contos e algumas poesias, enquanto as fotos eram projetadas nas altas paredes em toda volta e as músicas executadas ao fundo. E durante algum tempo, somente as imagens e o som embalaram a emoção visível em todos os semblantes. Em seguida, a Grande Gestora tomou a palavra.

– Caros amigos aqui presentes e de toda a Comunidade Estelar que nos assistem, sinto-me honrada por presidir este ato que é um momento histórico de nossa instituição. No dia 12 de janeiro de 2011, ao completarmos 150 anos de existência, a diretoria da então Caixa Econômica Federal resolveu lançar um ousado desafio às futuras gerações de colaboradores, ao dizer-lhes: nós nos encontraremos daqui a 150 anos!

Naquela oportunidade não faltaram aqueles que desdenharam deste desafio. Nunca antes houvera tamanha audácia na projeção de um objetivo com um prazo tão ambicioso. Pois agora eu digo a todos os que não acreditaram na obstinação e na força da nossa empresa – que nada mais é que a soma da força, do amor ao trabalho, da crença naquilo que fazemos e da dedicação incondicional de cada um de nós, que a nossa instituição não apenas sobreviveu ao desafio, mas cresceu e se fortificou a cada ano, a cada década, e hoje estamos aqui como testemunhas dos objetivos alcançados, e do cumprimento do desafio que nos foi proposto há tantos anos. Ajudamos a escrever a história do nosso país como agente das políticas públicas de habitação e saneamento. Em pouco tempo, tornamo-nos referência mundial, exportadores de tecnologias e soluções, e consultores de governos nos quatro cantos do mundo. Dessa forma, ajudamos a escrever também a história de tantos outros países. Expandir a atuação para outras bases planetárias foi apenas conseqüência da nossa competência em criar soluções eficazes para problemas de tamanhos planetários.

Assim é a Grande Xis. Grande, porque somos e pensamos grande. Audaz, porque somos e agimos com audácia. Forte, porque somos fortes e agimos com firmeza. Confiável, porque gostamos e acreditamos no que fazemos. Acolhedora, porque gostamos e acreditamos nas pessoas. Maior e melhor sempre, assim será a Grande Xis nos anos que virão.
Em nome da empresa, e em meu próprio nome, quero agradecer, emocionada, a todos os que fizeram e a todos os que fazem a história desta empresa desde sua fundação, há trezentos anos, até hoje. Agradeço também aos que propuseram a esta instituição desafio tão excitante e motivador. Em respeito à tão sábia iniciativa, nada poderíamos fazer de melhor do que devolver à guarda da Cápsula do Tempo o seu precioso conteúdo, acrescido apenas do registro formal desta solenidade, e devolvê-la ao Pedestal da História que é o seu justo lugar. Por fim, quero antecipadamente agradecer às futuras gerações de colaboradores, dizendo-lhes: nós nos encontraremos daqui a 300 anos!

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Texto selecionado no Concurso Gente de Talento 2009/2010, com o tema "O que você espera dos próximos 150 anos?", como parte das comemorações dos 150 anos da Caixa completados hoje. Todos os trabalhos selecionados nas categorias prosa, poesia, fotografia e música compuseram um livro e CD, e foram acondicionados numa cápsula do tempo que será aberta daqui a 150 anos, no dia 12 de janeiro de 2161.

03 janeiro 2011

04 dezembro 2010

Poeminha, dois


As flores
saciadas
abandonam as abelhas
extasiadas
e voltam aos jardins
cansadas

24 novembro 2010

Poeminha, um


As flores
abandonam as abelhas
e voltam aos jardins
Foto: Scott Linstead

15 novembro 2010

Ninguém Mexe no Meu Liguste!

O Ligustro é uma árvore perenifólia, que chega a 10 m de altura. Quando criança, eu a chamava de liguste e depois, mais crescido, legustre. Rústica, resistente a podas e intempéries, e de crescimento rápido. Um uso muito comum aqui em nossa região é como cerca viva, quando plantada em fileiras com as mudas próximas, e podada constantemente. Plantei uma destas árvores na calçada em frente de casa, e outras na calçada dos fundos, que dá para uma avenida, mas estas já foram derrubadas.

Fotos de Lages do final do século 19 e do início do século 20 mostram estas árvores (vide atualização abaixo) plantadas fora das calçadas, em torno de um metro dentro das ruas de chão batido, provavelmente para permitir o "estacionamento" das montarias. Aconteceu que cresci vendo estas árvores nas [infelizmente] poucas ruas arborizadas de nossa cidade, a maioria no centro. E de alguns anos para cá tenho observado uma campanha silenciosa de combate ao seu plantio acompanhada de uma gradual derrubada pela secretaria do Meio Ambiente, para substituição por outras espécies, nativas e de crescimento menos agressivo. A maior crítica ao ligustro é que as raízes da árvore adulta acabam destruindo calçadas e muros, o que, além do incômodo, encarece sua manutenção pois exige constantes cuidados e reparações em seu entorno. Outra crítica é que, ao que parece, a maioria das pessoas a considera uma árvore feia e que provoca muita sujeira, pois seus frutos dão em cachos com pequenas bolotinhas roxas que mancham as calçadas na época da maturação.

Apesar destes inconvenientes, a considero uma árvore muito bonita. Onde crescem livremente, como parques ou áreas amplas, elas se impõem pelo porte grandioso e a copa volumosa com sua folhagem perene. Mas reconheço que o meu caso é de amor antigo. Quando pequeno usava seus galhos para construir fundas, arcos e flechas, suas copas como esconderijo, as bolotinhas roxas como munição de zarabatana e as cercas vivas como cavernas. Aprendi a gostar delas.

Pois hoje, nem sete e meia da manhã – madrugada, pois – fui acordado ao som de uma motosserra. Era a vizinha do lado derrubando os dois ligustros da calçada em frente à sua casa. Assisti da janela do meu quarto com o coração apertado, e depois corri para bater a foto do 'meu liguste', ainda adolescente. Vai que alguém da secretaria do Meio Ambiente passa por aqui com uma motosserra debaixo do braço! Melhor não facilitar... Tô de olho!
Fotos: 1. Acervo do MTC
2. Colafina

AtualizaçãoHá uma outra foto no acervo do MTC mostrando a Rua Correia Pinto no inverno com estas árvores todas "peladas", indicando que aquelas árvores plantadas fora da calçada não são ligustros, e sim plátanos. Os ligustros foram plantados somente em meados da década de 40. Outra foto, datada de jul/45, mostra a Nereu Ramos com ligustros em torno de dois metro de altura, ainda com as estacas de proteção.  

14 novembro 2010

Uma Tirinha no Pedaço [dezesseis] – A Busca, 3º ato

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

08 novembro 2010

Uma Tirinha no Pedaço [quinze] – A Busca, 2º ato

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

02 novembro 2010

Uma Tirinha no Pedaço [quatorze] - A Busca, 1º ato

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

29 outubro 2010

Era uma vez...

...o zeloso pai de uma pura mocinha, que astutamente capturou o audaz mocinho que audaciosamente escalava a inexpugnável torre do inexpugnável castelo na inexpugnável montanha para uma inesquecível noite de tórrido romance com a quase virginal donzela.

O incauto amante foi impiedosamente jogado numa fétida masmorra e covardemente pendurado por pesadas correntes na úmida parede de sombrias pedras, onde dolorosamente passou o brevíssimo resto da sua brevíssima vida de desafortunado ex-quase-genro.

Esqualidamente nem bem morto nem muito vivo, em concorrida comemoração à intocada honra da empoeirada princesa, teve suas mirradas costelas saborosamente temperadas e cuidadosamente espetadas num curioso paliteiro e lentamente assadas no apinhado pátio do real castelo e vorazmente roídas pelos esfomeados súditos do seu cruel ex-quase-sogro.

Fim.
Foto: Raquel Cesário, publicada aqui.
Recorte&Edição: Colafina.

14 setembro 2010

10. O Coronel e seu Cavalo Gancho, Aquele Mal Educado!

(Esta é uma obra de pseudo-ficção. Qualquer coincidência com personagens abstratos, fatos inventados e lugares imaginados não será mera semelhança!)

O coronel Gumercindo Neto mateava pensativo, lagarteando ao sol outonal de uma manhã de domingo, sentado no banquinho de madeira presente do seu compadre com as pernas cruzadas esticadas e as costas apoiadas na parede de tábuas do galpão. Olhava o vazio enquanto o brilho morno esquentava as pedras da calçada estreita e os pés sem meia sobre os chinelos de couro. Nem percebeu a Tetê chegar trazendo outro banquinho que ajeitou nas pedras irregulares, e sentar-se ao seu lado com um suspiro sonolento.
— Quié que tá tão quieto, marido? – perguntou enquanto enchia a cuia ainda na mão do coronel.
— O Gancho entende o que eu falo... – deixou a frase no ar, quase um sussurro, o olhar ainda longe.
— Ora, é claro que entende. É um cavalo velho, está aqui desde potrilho, tem que entender...
— Mas não assim, Tetê, essas coisas de todo dia, que os bichos aprendem pelo costume. Não estou dizendo isso. Estou dizendo que o Gancho entende as palavras, as frases, as coisas que a gente fala...
— iiih... A troco do quê isso agora?
— Eu nunca me dei conta disso. Mas ontem à noite, enquanto a gente proseava ali no galpão com o primo Ptolomeu, lembra? O Gancho tava ali fora perto do galpão. Continuamos proseando depois que você foi deitar, entre um palheiro e outro, até quase meia noite. Puis, quando me dei conta o Gancho estava com o pescoço todo prá dentro do galpão, por cima do portão, e acompanhava a conversa olhando prum lado e pro outro, acompanhando quem estava falando. Volta e meia balançava a cabeça pra cima e pra baixo concordando com o assunto, às vezes pros lados, decerto dizendo que não era bem assim, sei lá. Não comentei nada com o primo pra ele não pensar que eu estava variando. Te juro, Tuinha, ele até ria com os causos mais engraçados...
— Mas que bobagem, homem, é bem capaz mesmo um bicho entender as palavras! Rir de piada, então, era só o que faltava... É melhor mesmo não falar com mais ninguém sobre isso, vão querer te internar!
Levantou-se rindo.
— Vou dar milho para as galinhas. Se mexa, senão daqui a pouco o pessoal chega e não tem nada arrumado...
Aquele domingo prometia ser movimentado.

Ali pelas nove e meia chegaram o arrumadinho de olho azul, o esquentadinho da cidade e o doutorzinho casca grossa, todos trazendo suas respectivas famílias incluindo cachorros, genros e noras. O enrugadinho transcendental apareceu trazendo a namorada nova e, de carona, o engatadinho tântrico que há tempos andava desaparecido. Segundo seu relato, que durou seis horas sem parar, andou por lugares incertos e impróprios para menores atrás de novas experiências tântricas, místicas e esotéricas, e que numa dessas andanças encontrou um chazinho maneiro com cor de água suja que é ótimo para limpar o trato digestivo, desde a entrada até a saída. O único problema, disse ele, é que depois você não lembra muito bem como é que as coisas aconteceram. Fora isso, tudo bem.

O bostinha colafina chegou mais tarde pra parecer mais importante que os outros só porque tem a chave do portão. O sabidinho que fala javanês, vindo da Groelândia, não apareceu porque teve que ir atrás da bagagem dele que foi despachada pro Zimbábue, na conexão em Cochabamba. Um dia, quem sabe, ele consegue chegar à estância.

Depois do churrasco assado pelo Vassourinha embebido em água de privada – o Vassourinha, não o churrasco – e muita cerveja no ponto, o povo todo esparramou-se no gramado pra aproveitar o sol uns, e curar a ressaca outros. Bem perto, o Gancho pastava absorto a grama curta. A conversa corria solta e sem compromisso até que um daqueles genros arriscou:
— Seu coronel, podemos dar umas voltas a cavalo?
— Mas é claro. Vassourinha, encilha o Gancho pro vivente aqui...
O cavalo trocou orelhas pressentindo a roubada que se avizinhava.
— Me leva na garupa, amor? – suplicou dengosa a filha correspondente ao genro aquele.
O Gancho arregalou os olhos e parou de mastigar, mas com os beiços ainda roçando o capim ralo. O coronel percebeu a reação e fez um sinal com a cabeça para a Tetê, e ficaram os dois olhando atentos o animal.
— Também quero andar nele! – guinchou um guri gordinho.
Levantou a cabeça e uma das patas dianteiras deslizou devagar para trás. Nem respirava.
— Depois sou eu! – determinou um dos esparramados.
O bicho deu um passo atrás já olhando pro lado.
— Tô na vez! – alertou outro, coçando o barrigão.
A passo lento, meio disfarçado e olhando de revesgueio, o cavalo velho começou a se afastar, e o jeitão dele chamou a atenção dos amigos do Arrudão, que também ficaram cuidando do Gancho até chegar em frente ao portão.
— Prondié que ele tá indo, tio? – guinchou de novo o gurizote.
— Prá lugar nenhum, piá, não tá vendo que o portão está fechado?

Então, todos os olhos se voltaram para o cavalo parado em frente ao portão que estava fechado. Ele olhou devagar para trás como se pedisse “– Me deixem sair daqui!“. Como ninguém se mexeu, voltou novamente a cabeça, e sob a clara luz do sol daquele dia de céu limpo todos testemunharam boquiabertos o Gancho enfiar o focinho entre as duas tábuas mais de cima, abocanhar a travessa com os dentes, levantá-la até desencaixar da trava no palanque, deslizá-la para o lado liberando o portão, depois soltá-la e, com todo cuidado, tirar o focinho dentre as tábuas e dar uma olhada rápida para trás, como se desdenhasse “– Tudo bem, eu mesmo abro!“. Ainda de queixos caídos, viram o Gancho empurrar de leve o portão com a testa, passar para o lado de fora e começar a subir a passo em direção ao capão da Santinha. Lá em cima do morrote o Gancho parou, virou-se para o bando de pasmados, relinchou debochado, deu meia volta, empinou o rabo e o topete e saiu a galopito, rindo descaradamente da fila de trouxas que esperavam um cavalo para passear, como se dissesse “– Eu, hein? No meu lombo não, violão!”.

Há quem diga que nem o coronel acreditou no que o Gancho tinha acabado de fazer, mas a Tetê desconversa e não confirma! A verdade é que o coronel nunca tinha visto mesmo o Gancho fazer aquilo. Mas... ele era o coronel Arrudão!  Conversador incansável desde nascença e exímio contador de causos acontecidos e outros nem tanto, é claro que não ia deixar escapar uma chance dessas de reforçar a fama que o precedia em toda a região da Coxilha Rica e dos Campos da Vacaria. Aprumou o queixo caído e, se fazendo de nervoso, deu alguns passos na direção do cavalo que chispava faceiro campo afora, estaqueou e virou-se com as mãos na cintura apontando o narigão adunco para a Tetê:

— Tetê, precisamos ter uma conversa séria com o Gancho, aquele mal educado! Não é que ele deixou o portão aberto... de novo?