29 abril 2011

Poeminha, quatro




Entro e saio,
Num repente.
Não ensaio,
Entro e saio
Tão somente.


Mi eniras kaj eliras,
Subite.
Mi ne provripetas,
Mi eniras kaj eliras,
Simple. 
Foto: Image Bank
Deixa: Pax

24 abril 2011

A Insanidade Não Tem Idade

Antigamente era comum viajarmos com a família completa e o carro abarrotado, quase sempre para a praia, onde desfrutávamos de alguns dias juntos. Os filhos eram pequenos, a disposição era grande, qualquer coisa era motivo de festa – para eles, claro – e o retorno exigia mais uma semana – de nós, claro – para recuperarmos a saúde física e mental. Os filhos foram crescendo, as viagens e atividades em família foram rareando e, antes que percebêssemos, estávamos enfurnados em casa criando limo. Depois de uma eternidade sem que a família estivesse reunida novamente em alguma atividade fora do habitual marasmo, eis que, de caso pensado, no dia 21 de abril fomos jejuar em um parque de aventuras radicais.

Jejuar sim, pois saímos de casa ali pelas onze da manhã, sob céu enfarruscado numa manhã em que já havia chovido, em direção ao Adventure Park, e do qual voltamos perto das sete e meia da noite depois de passar o dia a água e água, afinal até as bolachas Maria deixamos no carro estacionado na portaria.

A esposa, que teve a idéia do passeio, e eu dispensamos o rapel, a escalada e o trecking por absoluta falta de emoção, e encaramos o pacote mais radical:

– Via Ferrata, um conjunto de cabos e pinguelas balançantes suspensas entre as rochas a alturas suficientes para tremer os joelhos enferrujados, e que termina numa plataforma pendurada num pinheiro araucária feito casinha na árvore, só que a 20 metros de altura e sem cerquinha, de onde só se desce praticando rapel;

– Punk Jump, o Pêndulo – ou, a insanidade – onde criaturas sem  cérebro  noção (eu, no caso!) balançam feito ioiôs entre paredões de pedra gritando desesperadamente, pendurados num cabinho de aço preso noutro cabinho de aço atravessado entre as rochas; ATUALIZAÇÃO: O proprietário (na época) do parque, que construiu e instalou todas as atrações do parque, e que também era quem operava os equipamentos do Punk Jump e pode ser ouvido, no vídeo, dando as instruções a mim antes de liberar o pêndulo, era o empresário e esportista radical Lucas de Zorzi, falecido em 11/10/2020, em acidente em uma escalada no Canion Espraiado, na serra catarinense.

– Tirolesa, que obviamente tinha que ser uma das maiores do Brasil, com 1200 metros de extensão e 150 metros de desnível, onde por mais de um minuto se despenca numa velocidade em torno de 70 km/h, dependendo da massa corporal do destrambelhado que se atirou lá de cima, da plataforma entre as rochas. Nos cálculos do carinha responsável por segurar o infeliz para que não se arrebente lá onde os cabos terminam – sim, a viagem é longa, mas os cabos não são presos no infinito, eu passei dos noventa por hora! Indignado por ter sido chamado de gordão, perguntei como ele podia saber, se não tinha velocímetro nas rodinhas nem radar móvel apontando para mim, e ele candidamente respondeu que sabia porque queimou as mãos para segurar a corda que funciona como freio. A esposa e uma das filhas, que assistiram de camarote a minha chegada, confirmaram que saiu fumaça da luva de couro que o carinha usava. Preciso de um spa, urgente!

Um outro tipo de emoção para quem escala as rochas do parque é a visão que se tem da ‘sala de espera’ do pêndulo, também de tirar o fôlego. À direita, pequenas propriedades e hotéis de turismo rural, são dois até a entrada do parque, e à esquerda os paredões de pedra que ladeiam o cânion onde alguns minutos depois estaríamos pendurados balançando e gritando palavrões!

– E, por fim, o passeio de quadriciclo que pode até não ser assim tão radical, mas que exigiu muito cuidado, alguma perícia e uns quinze minutos corcoveando pela estrada íngreme, molhada, escorregadia e cheia de pedras e valetas entre as árvores, para subir novamente todos aqueles 150 metros de desnível que tínhamos acabado de descer pela tirolesa! Como éramos  as últimas vítimas    os últimos  desmiolados    os últimos  suicidas    os últimos clientes do parque, na volta pediram que levássemos os quadriciclos ao hotel fazenda perto dali onde eles são guardados à noite, e voltamos de Land Rover até onde estavam estacionados nossos carros.

Voltaremos, na primeira oportunidade.

17 abril 2011

Uma Tirinha no Pedaço [dezenove] – A Busca Continua... 6º ato

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

31 março 2011

Uma Tirinha no Pedaço [dezoito] – A Busca Continua... 5º ato

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico,  escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

08 fevereiro 2011

Uma Tirinha no Pedaço [dezessete] – A Busca Continua... 4º ato

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

12 janeiro 2011

O Dia Zero

Os gestores observam com interesse a movimentação no Hall do Futuro. Cada um deles tem à sua frente a imagem, em dimensões reais, do magnífico ambiente construído especialmente para guardar uma cápsula cilíndrica de titânio e cristal que paira, graciosamente girando à altura dos olhos dos convidados, a cerca de um metro acima do Pedestal da História, que foi ofertado há 50 anos pela Governadoria Mundial na comemoração de um Quarto de Milênio de existência da hoje tricentenária instituição presente em todos os quadrantes estelares, a Grande Xis. O Hall, uma imensa estrutura circular com paredes altíssimas, brancas e brilhantes, e que em seu centro abriga tão somente o sofisticado pedestal e seu peculiar e levitante artefato, simboliza um futuro que se oferece a que cada um escreva o seu próprio destino. Cotidianamente é visitado por pessoas que buscam um local calmo para reflexão, mas hoje está lotado por convidados, curiosos e colaboradores da Grande Xis e, no entanto, ouve-se apenas um leve rumor de ansiedade. Assim como pelos gestores ausentes, o evento está sendo acompanhado em tempo real por personalidades de todos os mundos do sistema planetário sob a justa e soberana governança do Supremo Conselho Estelar. O interesse se dá menos pela importância da instituição, nascida no longínquo século dezenove numa colônia imperial portuguesa, há décadas transformada numa entidade universal, mas muito mais pelo singular ato de abertura daquele objeto de formas anacrônicas e materiais obsoletos chamado de Cápsula do Tempo, há 150 anos guardado como um dos bens de maior valor da instituição. O dia 12 de janeiro de 2161 é uma data emblemática. Um século e meio de espera por este momento justifica todo o interesse e a curiosidade da comunidade estelar.

Presentes fisicamente apenas a Grande Gestora, uma afável e sorridente senhora de cabelos brancos e gestos suaves, e o Primeiro Urbe Gestor que comanda todas as operações realizadas no terceiro planeta. Os demais gestores os acompanham neste ato de suas respectivas bases planetárias, projetados holograficamente junto a eles circundando o pedestal. A um sinal da Grande Gestora, a energia do pedestal é desativada e a cápsula lentamente pára de girar e desce, como que suspensa por fios invisíveis, até encaixar-se em apoios luminosos sobre o pedestal. É um objeto curioso. Parece maior assim, parada, ao alcance das mãos.

Desde a divulgação pública da sua existência e do audacioso objetivo proposto pela diretoria, a cápsula foi protagonista de inúmeros episódios, que variaram do curioso e pitoresco ao aventureiro e espetacular. Nos primeiros anos a própria instituição encarregou-se de divulgar a singularidade desta iniciativa, única em seu grau de importância, dentro de suas unidades e em campanhas publicitárias. O interesse da grande mídia nunca desapareceu com o passar dos anos, e volta e meia a cápsula estrelava algum programa especial, era tema ou protagonista de filmes de aventura, ou recebia visitas importantes que profetizavam a sua sobrevivência ao tempo e às inconstâncias humanas.

E assim o tempo passou... A cada década decorrida lá estava ela, a solene e impassível Cápsula do Tempo, que emergia de seu mostruário de vidro para as telas e outdoors nas comemorações institucionais e em notas e reportagens na mídia que, invariavelmente, salientavam o tempo que ainda restava de espera para o dia de hoje, o Dia Zero.

A outro sinal da Grande Gestora, a cápsula foi cuidadosamente aberta. O conteúdo, conhecido desde sempre, os originais de contos, poesias, fotos e músicas, todas produzidas por antigos colaboradores da instituição, foi exposto ao público. Aleatoriamente, leu um dos contos e algumas poesias, enquanto as fotos eram projetadas nas altas paredes em toda volta e as músicas executadas ao fundo. E durante algum tempo, somente as imagens e o som embalaram a emoção visível em todos os semblantes. Em seguida, a Grande Gestora tomou a palavra.

– Caros amigos aqui presentes e de toda a Comunidade Estelar que nos assistem, sinto-me honrada por presidir este ato que é um momento histórico de nossa instituição. No dia 12 de janeiro de 2011, ao completarmos 150 anos de existência, a diretoria da então Caixa Econômica Federal resolveu lançar um ousado desafio às futuras gerações de colaboradores, ao dizer-lhes: nós nos encontraremos daqui a 150 anos!

Naquela oportunidade não faltaram aqueles que desdenharam deste desafio. Nunca antes houvera tamanha audácia na projeção de um objetivo com um prazo tão ambicioso. Pois agora eu digo a todos os que não acreditaram na obstinação e na força da nossa empresa – que nada mais é que a soma da força, do amor ao trabalho, da crença naquilo que fazemos e da dedicação incondicional de cada um de nós, que a nossa instituição não apenas sobreviveu ao desafio, mas cresceu e se fortificou a cada ano, a cada década, e hoje estamos aqui como testemunhas dos objetivos alcançados, e do cumprimento do desafio que nos foi proposto há tantos anos. Ajudamos a escrever a história do nosso país como agente das políticas públicas de habitação e saneamento. Em pouco tempo, tornamo-nos referência mundial, exportadores de tecnologias e soluções, e consultores de governos nos quatro cantos do mundo. Dessa forma, ajudamos a escrever também a história de tantos outros países. Expandir a atuação para outras bases planetárias foi apenas conseqüência da nossa competência em criar soluções eficazes para problemas de tamanhos planetários.

Assim é a Grande Xis. Grande, porque somos e pensamos grande. Audaz, porque somos e agimos com audácia. Forte, porque somos fortes e agimos com firmeza. Confiável, porque gostamos e acreditamos no que fazemos. Acolhedora, porque gostamos e acreditamos nas pessoas. Maior e melhor sempre, assim será a Grande Xis nos anos que virão.
Em nome da empresa, e em meu próprio nome, quero agradecer, emocionada, a todos os que fizeram e a todos os que fazem a história desta empresa desde sua fundação, há trezentos anos, até hoje. Agradeço também aos que propuseram a esta instituição desafio tão excitante e motivador. Em respeito à tão sábia iniciativa, nada poderíamos fazer de melhor do que devolver à guarda da Cápsula do Tempo o seu precioso conteúdo, acrescido apenas do registro formal desta solenidade, e devolvê-la ao Pedestal da História que é o seu justo lugar. Por fim, quero antecipadamente agradecer às futuras gerações de colaboradores, dizendo-lhes: nós nos encontraremos daqui a 300 anos!

_____________________________
Texto selecionado no Concurso Gente de Talento 2009/2010, com o tema "O que você espera dos próximos 150 anos?", como parte das comemorações dos 150 anos da Caixa completados hoje. Todos os trabalhos selecionados nas categorias prosa, poesia, fotografia e música compuseram um livro e CD, e foram acondicionados numa cápsula do tempo que será aberta daqui a 150 anos, no dia 12 de janeiro de 2161.

03 janeiro 2011

04 dezembro 2010

Poeminha, dois


As flores
saciadas
abandonam as abelhas
extasiadas
e voltam aos jardins
cansadas

24 novembro 2010

Poeminha, um


As flores
abandonam as abelhas
e voltam aos jardins
Foto: Scott Linstead

15 novembro 2010

Ninguém Mexe no Meu Liguste!

O Ligustro é uma árvore perenifólia, que chega a 10 m de altura. Quando criança, eu a chamava de liguste e depois, mais crescido, legustre. Rústica, resistente a podas e intempéries, e de crescimento rápido. Um uso muito comum aqui em nossa região é como cerca viva, quando plantada em fileiras com as mudas próximas, e podada constantemente. Plantei uma destas árvores na calçada em frente de casa, e outras na calçada dos fundos, que dá para uma avenida, mas estas já foram derrubadas.

Fotos de Lages do final do século 19 e do início do século 20 mostram estas árvores (vide atualização abaixo) plantadas fora das calçadas, em torno de um metro dentro das ruas de chão batido, provavelmente para permitir o "estacionamento" das montarias. Aconteceu que cresci vendo estas árvores nas [infelizmente] poucas ruas arborizadas de nossa cidade, a maioria no centro. E de alguns anos para cá tenho observado uma campanha silenciosa de combate ao seu plantio acompanhada de uma gradual derrubada pela secretaria do Meio Ambiente, para substituição por outras espécies, nativas e de crescimento menos agressivo. A maior crítica ao ligustro é que as raízes da árvore adulta acabam destruindo calçadas e muros, o que, além do incômodo, encarece sua manutenção pois exige constantes cuidados e reparações em seu entorno. Outra crítica é que, ao que parece, a maioria das pessoas a considera uma árvore feia e que provoca muita sujeira, pois seus frutos dão em cachos com pequenas bolotinhas roxas que mancham as calçadas na época da maturação.

Apesar destes inconvenientes, a considero uma árvore muito bonita. Onde crescem livremente, como parques ou áreas amplas, elas se impõem pelo porte grandioso e a copa volumosa com sua folhagem perene. Mas reconheço que o meu caso é de amor antigo. Quando pequeno usava seus galhos para construir fundas, arcos e flechas, suas copas como esconderijo, as bolotinhas roxas como munição de zarabatana e as cercas vivas como cavernas. Aprendi a gostar delas.

Pois hoje, nem sete e meia da manhã – madrugada, pois – fui acordado ao som de uma motosserra. Era a vizinha do lado derrubando os dois ligustros da calçada em frente à sua casa. Assisti da janela do meu quarto com o coração apertado, e depois corri para bater a foto do 'meu liguste', ainda adolescente. Vai que alguém da secretaria do Meio Ambiente passa por aqui com uma motosserra debaixo do braço! Melhor não facilitar... Tô de olho!
Fotos: 1. Acervo do MTC
2. Colafina

AtualizaçãoHá uma outra foto no acervo do MTC mostrando a Rua Correia Pinto no inverno com estas árvores todas "peladas", indicando que aquelas árvores plantadas fora da calçada não são ligustros, e sim plátanos. Os ligustros foram plantados somente em meados da década de 40. Outra foto, datada de jul/45, mostra a Nereu Ramos com ligustros em torno de dois metro de altura, ainda com as estacas de proteção.