21 abril 2010

Uma Tirinha no Pedaço [onze]

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

27 março 2010

Estou a Dois Passos... do Sanatório! [Talvez eu volte, ou fique por lá...]


Prezada Gerente Fulana

No início era o Verbo.

Ao primeiro dia, fez-se a luz!

Ao segundo dia, um lote de terras sem benfeitorias!

Ao terceiro dia, nada foi criado, nem mesmo uma averbaçãozinha titica que seja de qualquer benfeitoria!

Ao quarto dia, assim, do nada, surgiram uma sala de alvenaria, um barracão de madeira e uma casa de venda (sic), cuja retirada foi reservada pelos vendedores! (Oh! dúvida: que benfeitorias são essas que não foram averbadas? E que vendedores são esses, se não há averbação de compra e venda, e o proprietário é o mesmo do início ao fim do documento?)

Ao quinto dia, as benfeitorias, do nada criadas, “... foram todas retiradas do local em tempo oportuno”!

Ao sexto dia, um engenheiro com poderes até então inimaginados, com o auxílio de um pequeno artefato digital, consegue registrar para a posteridade a nítida imagem das benfeitorias solenemente assentadas sobre o terreno, as mesmas que do nada foram criadas e que já haviam sido retiradas do local em tempo oportuno pelos vendedores que nunca existiram, conforme bem consta neste documento escrito e assinado por oficial de registro digno de fé!

Ao sétimo dia, como não poderia ser diferente, descansamos, pois afinal ninguém é de ferro!

Era o que tínhamos a registrar.

Sicrano (pasmo e crente!)

Poucas coisas na vida são tão agitadas, excitantes e estimulantes como a análise documental de processos de financiamento habitacional, incluindo aí a leitura minuciosa, de cabo a rabo, de zilhões de fichas matrículas de inteiro teor[1].  O dia todo, todo santo dia!

___________________
[1] O equivalente à carteira de identidade do imóvel, mais conhecida como ‘a escritura da casa’. Na ficha matrícula o Cartório (ou Ofício) de Registro de Imóveis registra (averba) tudo o que acontece em relação àquele imóvel, como a localização, medidas e confrontações, a construção, ampliação ou demolição de benfeitorias, as transações de compra e venda, constituição de condomínio, doação, inventário, partilha, hipoteca, penhora, etc., e é o único documento que garante, ao dono, a sua propriedade  .

07 fevereiro 2010

Uma Tirinha no Pedaço [dez]

FAGUNDES & ANACLETO
Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

01 fevereiro 2010

Sobre Velório e Inquietude

Acabo de ler o texto no qual o Rafael Galvão descreve em seu último parágrafo, em três linhas, o que para ele foi o enterro mais pungente de sua vida, e lembrei-me daquele que para mim foi o velório mais inquietante, e do qual fui apenas um fugaz expectador. Infelizmente não saberei ser tão sucinto quanto ele.

Há alguns anos, voltando para casa após uma festa de aniversário na casa de um amigo, por volta das 3:00h da madrugada gelada de um domingo de inverno, passamos em frente a uma capela mortuária na rua ao lado do principal cemitério da cidade. Em frente à capela não havia ninguém, e na rua nenhum carro estacionado. No interior da capela iluminada, podia-se ver pela porta de vidro fechada, na sala cercada de cadeiras vazias, um caixão, com duas velas grandes acesas aos pés de um ornamento metálico na parede ao fundo, e nenhuma coroa de flores ou outro arranjo de qualquer tipo. À esquerda, na primeira cadeira encostada à parede, uma única pessoa velava aquele corpo. Sentado com as pernas e os braços cruzados, protegido do frio encolhido dentro de um pesado casaco com as golas levantadas e com um gorro de lã que cobria as orelhas, um homem dormia com o queixo afundado no peito. Um arrepio estremeceu todo meu corpo naquele momento, e não foi pelo frio da madrugada.

A angústia que senti ao ver a absurda solidão daquela cena perdurou por semanas, e retorna com a mesma intensidade sempre que a relembro, mais ainda agora em que a descrevo. Sempre me questionei se a existência daquela criatura sendo velada foi tão vazia quanto seu velório, ou se alguma outra obscura circunstância desenhou tão amargurado quadro. Nunca o saberei.

24 janeiro 2010

Deus & Cia Ltda [dois]


“EU DETERMINO EM NOME DE JESUS, QUERO SAÚDE PARA MIM, ESPOSA E FILHOS L.C., M.H. E L.H..
PRECISO QUE O SENHOR HONRE A MINHA FÉ, POIS SOU DIZIMISTA E OFERTANTE DA CASA DO SENHOR JESUS.
NECESSITO DA PROSPERIDADE DE DEUS, POIS É NA ÁREA QUE SOU MAIS PROVADO.
QUERO TER MEU PRÓPRIO NEGÓCIO, QUERO CONQUISTAR OS DONS DO SENHOR, SABEDORIA, AUTORIDADE DA PALAVRA, ADORAÇÃO, DOM DE TOCAR VIOLÃO. QUE SEJA TUDO PARA HONRA E GLÓRIA DO SENHOR DOS EXÉRCITOS.
AMÉM!...”

Este texto não é uma oração, nem mesmo um pedido. É a determinação de uma pessoa que parece cobrar seus direitos de consumidor, a imposição da satisfação dos seus desejos, a exigência do cumprimento de itens contratuais, pois afinal de contas ele é dizimista...

Manuscrito em maiúsculas e ocupando metade de uma folha de caderno universitário, foi ofertado a Igreja (...) junto com a quantia de R$ 400,00 em dinheiro;

Posso estar enganado, mas pelos dons que ele quer ter, aposto que seu objetivo é tornar-se pastor da Igreja, ou fundar a sua própria...

21 janeiro 2010

Deus & Cia Ltda

“A empresa Deus & Cia Ltda - Comércio de Secos e Molhados é especializada no aviamento de receitas de lucro fácil como prosperidade material e sucesso empresarial, de concessão de dons divinos e mundanos, de promessas de cura de qualquer mal físico ou mental, de aquisição de cadeiras numeradas e lotes celestiais, e presta serviço garantido no exorcismo de satanismos em qualquer nível de bestialidade.

A administração comercial e financeira está a cargo de seus sócios minoritários, mas não menos importantes e com larga experiência no ramo, Seu filho Jesus e Seu fiel faz tudo Espírito Santo, para possibilitar ao Sócio majoritário ocupar-se tão somente da administração da mega-super-hiper-premium-plus-master-blaster holding Universo & Eternidade, da qual Ele é o único proprietário e onde acumula as funções de presidente, tesoureiro, secretário, encarregado da limpeza e do cafezinho, gerente de recursos humanos, de marketing, e office boy.

Oferecemos a líderes pastorais estabilidade no emprego e polpudas comissões pela venda de produtos, e atendimento preferencial e descontos especiais a dizimistas e ofertantes da casa do Senhor, seja ela qual for.

Sua satisfação e seu dinheiro são a nossa satisfação!”

Gravura: http://www.saskschools.ca/~gregory/settlers4.html

27 dezembro 2009

Orquestra Sapofônica do Cajuru

Noite quente de um sábado de primavera, no mágico estio após um aguaceiro no fim da tarde. A poucos metros à direita, uma lagoa rasa formada pelas águas da chuva e de um banhado no terreno vizinho, do outro lado da taipa de pedras meio submersa que corta a lagoa ao longo da divisa do campo. A mesma lagoa onde o Rosilho atolava até os joelhos para pastar o capim aflorando à superfície, e onde hoje pasta sozinha a Alazana.

O nome mais apropriado para a orquestra seria grilofônica, ou talvez cigarrafônica, mas ao vivo, pisando o capim molhado lá pertinho da lagoa, o coaxar se sobressaía aos cricrilos que, nesta gravação, porém, destacaram-se sobremaneira. Então, aumente o volume e saboreie um som que quase não se ouve mais na cidade, a barulheira de bichos na natureza. O som do mato.

Com vocês, a Orquestra Sapofônica do Cajuru!

19 dezembro 2009

Sebastião Salgado, o Fotógrafo Social, um Brasileiro

Aos 65 anos, Sebastião Salgado, que é hoje um dos fotógrafos mais famosos do mundo, tem sua obra permeada pela preocupação com as mazelas sociais. Seus principais trabalhos são verdadeiras crônicas sobre a vida das pessoas excluídas. Sua preocupação social fez com que, em 2001, fosse nomeado representante especial do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

De origem mineira, nasceu em Aimorés no dia 8 de fevereiro de 1944. Deixou a cidade aos 16 anos para estudar em Vitória, no Espírito Santo, e depois foi para São Paulo, onde se formou em Economia. Um dia depois de sua formatura, casou-se com Lélia Deluiz Wanick, com quem vive até hoje e tem dois filhos, Juliano e Rodrigo, que tem síndrome de Down. “Acho que muita coisa que faço hoje, próxima do social, de cunho humanitário, foi Rodrigo quem me trouxe. Ele me deu outra compreensão da vida, outra maneira de eu ver a humanidade, de me situar”, disse o fotógrafo, em entrevista à BBC Brasil.

A carreira de Salgado começou em 1969, quando ele foi para Paris fazer doutorado em Economia. Durante suas férias acadêmicas, visitou a África e encantou-se pela fotografia a tal ponto que mudou de profissão. Em 1973, resolveu ficar de vez na Europa, onde iniciou sua nova carreira. Os trabalhos de Sebastião Salgado ficaram marcados por mostrar, com sensibilidade, o cotidiano das pessoas, tanto da Europa como dos países por onde viajava. Entre 1979 e 1993, dedicou-se a vários projetos desafiadores, como a cobertura da guerra de Angola, o sequestro de israelenses, em Entebe, na Uganda, e a publicação do livro Outras Américas, no qual retratou os pobres da América Latina.

Para muitos, sua consagração se deu, definitivamente, com as fotos do atentado ao presidente dos EUA, Ronald Reagan, em 1981, trabalho que lhe rendeu bastante fama. Ele foi o único a conseguir retratar o presidente ferido.

Um de seus projetos de maior destaque é Êxodos, que mostra imagens captadas em 41 países, onde documentou populações marginalizadas, na sua maioria crianças e mulheres sem-teto. A exposição teve estréia mundial em Nova Iorque. O jornal Le Monde publicou artigo sobre Êxodos, em que descreveu Salgado como “...um fotojornalista que vai além da estética da imagem. Suas fotos trazem reflexão, onde a maioria das pessoas se identifica, dando um ar universal à obra”. Atualmente, Salgado se dedica ao projeto de campanha mundial para erradicação da poliomielite, em parceria com o Unicef e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Fonte: Revista Funcef, ed 38, ago09
                                                  



Em cima, a partir da esquerda:
Os pobres trabalhadores da terra, Ceará – Brasil, 1983
Refugiados de Gourma-Rharous – Mali, 1985

Em baixo, a partir da esquerda:
Refugiados de Gondan – Mali, 1985
Serra Pelada, Pará – Brasil, 1986
Rio Bonito do Iguaçu, Paraná – Brasil, 1996

13 dezembro 2009

Uma Tirinha no Pedaço [nove]

FAGUNDES & ANACLETO

Clênio Souza, artista plástico, escultor, cartunista, poeta e desenhista, originalmente publicado em O Momento.

11 dezembro 2009

Fazer a Diferença, Fazendo Diferente

Posso mudar a minha vida fazendo diferente. Fazendo diferente, mudaremos o mundo nós todos.