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24 setembro 2022

Poeminha, seis - A Primavera



A PRIMAVERA
 
Dizem os poetas
Que ela se lança
Em passos de dança
Do alto das rochas

A nós nos parece
Que ela caminha
Se arrasta e patinha
Em velhas galochas



LA PRINTEMPO

Diras la poetoj
Ke ĝi ĵetiĝas
En dancpaŝoj
De la supro de l' rokoj

Ŝajnas al ni
Ke ĝi marŝas,
Treniĝas kaj glitas
En malnovaj galoŝoj

06 maio 2013

Poeminha, cinco - Melô do Esquecido



MELÔ DO ESQUECIDO

Acomodo as lembranças
Em caixotes no porão.
Quando mais preciso delas,
Nunca sei onde estão.


POEMO DE LA FORGESEMA

Mi akomodas la memorojn
En kestegoj en la kelo.
Kiam mi plej bezonas ilin,
Mi neniam scias kie ili estas.

29 abril 2011

Poeminha, quatro




Entro e saio,
Num repente.
Não ensaio,
Entro e saio
Tão somente.


Mi eniras kaj eliras,
Subite.
Mi ne provripetas,
Mi eniras kaj eliras,
Simple. 
Foto: Image Bank
Deixa: Pax

24 abril 2011

A Insanidade Não Tem Idade

Antigamente era comum viajarmos com a família completa e o carro abarrotado, quase sempre para a praia, onde desfrutávamos de alguns dias juntos. Os filhos eram pequenos, a disposição era grande, qualquer coisa era motivo de festa – para eles, claro – e o retorno exigia mais uma semana – de nós, claro – para recuperarmos a saúde física e mental. Os filhos foram crescendo, as viagens e atividades em família foram rareando e, antes que percebêssemos, estávamos enfurnados em casa criando limo. Depois de uma eternidade sem que a família estivesse reunida novamente em alguma atividade fora do habitual marasmo, eis que, de caso pensado, no dia 21 de abril fomos jejuar em um parque de aventuras radicais.

Jejuar sim, pois saímos de casa ali pelas onze da manhã, sob céu enfarruscado numa manhã em que já havia chovido, em direção ao Adventure Park, e do qual voltamos perto das sete e meia da noite depois de passar o dia a água e água, afinal até as bolachas Maria deixamos no carro estacionado na portaria.

A esposa, que teve a idéia do passeio, e eu dispensamos o rapel, a escalada e o trecking por absoluta falta de emoção, e encaramos o pacote mais radical:

– Via Ferrata, um conjunto de cabos e pinguelas balançantes suspensas entre as rochas a alturas suficientes para tremer os joelhos enferrujados, e que termina numa plataforma pendurada num pinheiro araucária feito casinha na árvore, só que a 20 metros de altura e sem cerquinha, de onde só se desce praticando rapel;

– Punk Jump, o Pêndulo – ou, a insanidade – onde criaturas sem  cérebro  noção (eu, no caso!) balançam feito ioiôs entre paredões de pedra gritando desesperadamente, pendurados num cabinho de aço preso noutro cabinho de aço atravessado entre as rochas; ATUALIZAÇÃO: O proprietário (na época) do parque, que construiu e instalou todas as atrações do parque, e que também era quem operava os equipamentos do Punk Jump e pode ser ouvido, no vídeo, dando as instruções a mim antes de liberar o pêndulo, era o empresário e esportista radical Lucas de Zorzi, falecido em 11/10/2020, em acidente em uma escalada no Canion Espraiado, na serra catarinense.

– Tirolesa, que obviamente tinha que ser uma das maiores do Brasil, com 1200 metros de extensão e 150 metros de desnível, onde por mais de um minuto se despenca numa velocidade em torno de 70 km/h, dependendo da massa corporal do destrambelhado que se atirou lá de cima, da plataforma entre as rochas. Nos cálculos do carinha responsável por segurar o infeliz para que não se arrebente lá onde os cabos terminam – sim, a viagem é longa, mas os cabos não são presos no infinito, eu passei dos noventa por hora! Indignado por ter sido chamado de gordão, perguntei como ele podia saber, se não tinha velocímetro nas rodinhas nem radar móvel apontando para mim, e ele candidamente respondeu que sabia porque queimou as mãos para segurar a corda que funciona como freio. A esposa e uma das filhas, que assistiram de camarote a minha chegada, confirmaram que saiu fumaça da luva de couro que o carinha usava. Preciso de um spa, urgente!

Um outro tipo de emoção para quem escala as rochas do parque é a visão que se tem da ‘sala de espera’ do pêndulo, também de tirar o fôlego. À direita, pequenas propriedades e hotéis de turismo rural, são dois até a entrada do parque, e à esquerda os paredões de pedra que ladeiam o cânion onde alguns minutos depois estaríamos pendurados balançando e gritando palavrões!

– E, por fim, o passeio de quadriciclo que pode até não ser assim tão radical, mas que exigiu muito cuidado, alguma perícia e uns quinze minutos corcoveando pela estrada íngreme, molhada, escorregadia e cheia de pedras e valetas entre as árvores, para subir novamente todos aqueles 150 metros de desnível que tínhamos acabado de descer pela tirolesa! Como éramos  as últimas vítimas    os últimos  desmiolados    os últimos  suicidas    os últimos clientes do parque, na volta pediram que levássemos os quadriciclos ao hotel fazenda perto dali onde eles são guardados à noite, e voltamos de Land Rover até onde estavam estacionados nossos carros.

Voltaremos, na primeira oportunidade.

12 janeiro 2011

O Dia Zero

Os gestores observam com interesse a movimentação no Hall do Futuro. Cada um deles tem à sua frente a imagem, em dimensões reais, do magnífico ambiente construído especialmente para guardar uma cápsula cilíndrica de titânio e cristal que paira, graciosamente girando à altura dos olhos dos convidados, a cerca de um metro acima do Pedestal da História, que foi ofertado há 50 anos pela Governadoria Mundial na comemoração de um Quarto de Milênio de existência da hoje tricentenária instituição presente em todos os quadrantes estelares, a Grande Xis. O Hall, uma imensa estrutura circular com paredes altíssimas, brancas e brilhantes, e que em seu centro abriga tão somente o sofisticado pedestal e seu peculiar e levitante artefato, simboliza um futuro que se oferece a que cada um escreva o seu próprio destino. Cotidianamente é visitado por pessoas que buscam um local calmo para reflexão, mas hoje está lotado por convidados, curiosos e colaboradores da Grande Xis e, no entanto, ouve-se apenas um leve rumor de ansiedade. Assim como pelos gestores ausentes, o evento está sendo acompanhado em tempo real por personalidades de todos os mundos do sistema planetário sob a justa e soberana governança do Supremo Conselho Estelar. O interesse se dá menos pela importância da instituição, nascida no longínquo século dezenove numa colônia imperial portuguesa, há décadas transformada numa entidade universal, mas muito mais pelo singular ato de abertura daquele objeto de formas anacrônicas e materiais obsoletos chamado de Cápsula do Tempo, há 150 anos guardado como um dos bens de maior valor da instituição. O dia 12 de janeiro de 2161 é uma data emblemática. Um século e meio de espera por este momento justifica todo o interesse e a curiosidade da comunidade estelar.

Presentes fisicamente apenas a Grande Gestora, uma afável e sorridente senhora de cabelos brancos e gestos suaves, e o Primeiro Urbe Gestor que comanda todas as operações realizadas no terceiro planeta. Os demais gestores os acompanham neste ato de suas respectivas bases planetárias, projetados holograficamente junto a eles circundando o pedestal. A um sinal da Grande Gestora, a energia do pedestal é desativada e a cápsula lentamente pára de girar e desce, como que suspensa por fios invisíveis, até encaixar-se em apoios luminosos sobre o pedestal. É um objeto curioso. Parece maior assim, parada, ao alcance das mãos.

Desde a divulgação pública da sua existência e do audacioso objetivo proposto pela diretoria, a cápsula foi protagonista de inúmeros episódios, que variaram do curioso e pitoresco ao aventureiro e espetacular. Nos primeiros anos a própria instituição encarregou-se de divulgar a singularidade desta iniciativa, única em seu grau de importância, dentro de suas unidades e em campanhas publicitárias. O interesse da grande mídia nunca desapareceu com o passar dos anos, e volta e meia a cápsula estrelava algum programa especial, era tema ou protagonista de filmes de aventura, ou recebia visitas importantes que profetizavam a sua sobrevivência ao tempo e às inconstâncias humanas.

E assim o tempo passou... A cada década decorrida lá estava ela, a solene e impassível Cápsula do Tempo, que emergia de seu mostruário de vidro para as telas e outdoors nas comemorações institucionais e em notas e reportagens na mídia que, invariavelmente, salientavam o tempo que ainda restava de espera para o dia de hoje, o Dia Zero.

A outro sinal da Grande Gestora, a cápsula foi cuidadosamente aberta. O conteúdo, conhecido desde sempre, os originais de contos, poesias, fotos e músicas, todas produzidas por antigos colaboradores da instituição, foi exposto ao público. Aleatoriamente, leu um dos contos e algumas poesias, enquanto as fotos eram projetadas nas altas paredes em toda volta e as músicas executadas ao fundo. E durante algum tempo, somente as imagens e o som embalaram a emoção visível em todos os semblantes. Em seguida, a Grande Gestora tomou a palavra.

– Caros amigos aqui presentes e de toda a Comunidade Estelar que nos assistem, sinto-me honrada por presidir este ato que é um momento histórico de nossa instituição. No dia 12 de janeiro de 2011, ao completarmos 150 anos de existência, a diretoria da então Caixa Econômica Federal resolveu lançar um ousado desafio às futuras gerações de colaboradores, ao dizer-lhes: nós nos encontraremos daqui a 150 anos!

Naquela oportunidade não faltaram aqueles que desdenharam deste desafio. Nunca antes houvera tamanha audácia na projeção de um objetivo com um prazo tão ambicioso. Pois agora eu digo a todos os que não acreditaram na obstinação e na força da nossa empresa – que nada mais é que a soma da força, do amor ao trabalho, da crença naquilo que fazemos e da dedicação incondicional de cada um de nós, que a nossa instituição não apenas sobreviveu ao desafio, mas cresceu e se fortificou a cada ano, a cada década, e hoje estamos aqui como testemunhas dos objetivos alcançados, e do cumprimento do desafio que nos foi proposto há tantos anos. Ajudamos a escrever a história do nosso país como agente das políticas públicas de habitação e saneamento. Em pouco tempo, tornamo-nos referência mundial, exportadores de tecnologias e soluções, e consultores de governos nos quatro cantos do mundo. Dessa forma, ajudamos a escrever também a história de tantos outros países. Expandir a atuação para outras bases planetárias foi apenas conseqüência da nossa competência em criar soluções eficazes para problemas de tamanhos planetários.

Assim é a Grande Xis. Grande, porque somos e pensamos grande. Audaz, porque somos e agimos com audácia. Forte, porque somos fortes e agimos com firmeza. Confiável, porque gostamos e acreditamos no que fazemos. Acolhedora, porque gostamos e acreditamos nas pessoas. Maior e melhor sempre, assim será a Grande Xis nos anos que virão.
Em nome da empresa, e em meu próprio nome, quero agradecer, emocionada, a todos os que fizeram e a todos os que fazem a história desta empresa desde sua fundação, há trezentos anos, até hoje. Agradeço também aos que propuseram a esta instituição desafio tão excitante e motivador. Em respeito à tão sábia iniciativa, nada poderíamos fazer de melhor do que devolver à guarda da Cápsula do Tempo o seu precioso conteúdo, acrescido apenas do registro formal desta solenidade, e devolvê-la ao Pedestal da História que é o seu justo lugar. Por fim, quero antecipadamente agradecer às futuras gerações de colaboradores, dizendo-lhes: nós nos encontraremos daqui a 300 anos!

_____________________________
Texto selecionado no Concurso Gente de Talento 2009/2010, com o tema "O que você espera dos próximos 150 anos?", como parte das comemorações dos 150 anos da Caixa completados hoje. Todos os trabalhos selecionados nas categorias prosa, poesia, fotografia e música compuseram um livro e CD, e foram acondicionados numa cápsula do tempo que será aberta daqui a 150 anos, no dia 12 de janeiro de 2161.

03 janeiro 2011

04 dezembro 2010

Poeminha, dois


As flores
saciadas
abandonam as abelhas
extasiadas
e voltam aos jardins
cansadas

24 novembro 2010

Poeminha, um


As flores
abandonam as abelhas
e voltam aos jardins
Foto: Scott Linstead

29 outubro 2010

Era uma vez...

...o zeloso pai de uma pura mocinha, que astutamente capturou o audaz mocinho que audaciosamente escalava a inexpugnável torre do inexpugnável castelo na inexpugnável montanha para uma inesquecível noite de tórrido romance com a quase virginal donzela.

O incauto amante foi impiedosamente jogado numa fétida masmorra e covardemente pendurado por pesadas correntes na úmida parede de sombrias pedras, onde dolorosamente passou o brevíssimo resto da sua brevíssima vida de desafortunado ex-quase-genro.

Esqualidamente nem bem morto nem muito vivo, em concorrida comemoração à intocada honra da empoeirada princesa, teve suas mirradas costelas saborosamente temperadas e cuidadosamente espetadas num curioso paliteiro e lentamente assadas no apinhado pátio do real castelo e vorazmente roídas pelos esfomeados súditos do seu cruel ex-quase-sogro.

Fim.
Foto: Raquel Cesário, publicada aqui.
Recorte&Edição: Colafina.

05 agosto 2010

Intercâmbio Culinário

No mês de junho recebi o convite de uma amiga, por email, para participar de um intercâmbio de receitas culinárias. Como decididamente não sou conhecido pelos meus dotes culinários, fica claro que só recebi o convite porque ela precisava enviar para 20 pessoas para não quebrar a corrente. O curioso é que, apesar da minha mediocridade panelística, por algum motivo que desconheço sou constantemente solicitado por amigos cozinheiros, e até pela minha mãe e minha sogra, a experimentar o tempero dos pratos principais que estejam fazendo. Infelizmente, minha fama nas redondezas não passa disso, um mero provador de tempero.

Apesar disso, se precisar cozinhar não morro de fome. Meu conhecimento de cozinha, porém, resume-se a pratos simples, rústicos, que não exigem receitas escritas e que aprendi fazendo ou perguntando como fazer, e apenas em ocasiões específicas, invariavelmente envolvendo os amigos. Além dos pratos básicos como misto quente, sopa de caneca e ovo frito, consigo preparar sem muita dificuldade uma macarronada, arroz com galinha, arroz com lingüiça, paçoca de pinhão, carreteiro, bife no disco com legumes e verduras, peixe frito, churrasco... ou seja, todos pratos bem aceitos pela maioria das pessoas, e nada muito elaborado.

Mas aquele convite mexeu com os meus brios. A busca por uma receita especial para a minha amiga me fez pensar na relação que tenho com as panelas, e como este relacionamento interfere na rotina das formigas cortadeiras que fazem ninho nas trincas da calçada, daí percebi que não posso passar o resto da vida como provador oficial do tempero do prato dos outros – atividade de alto risco, por sinal. Resolvi, então, investir na minha imagem gourmética, e saí à procura da receita ideal. Optei por um prato típico das regiões de altitude aqui do sul, bem tradicional, preparado desde a era sapozóica, mas os poucos relatos que encontrei não estavam à altura da importância dos meus objetivos ego-culinários. Por isso, passei os últimos 47 dias redigindo com muito esmero esta receita, que acredito será do agrado dela, pois, como se pode perceber, é um prato muito simples, de poucos ingredientes e de facílimo preparo.


Crestamento de Estruturas Embrionárias Araucariáceas

Ingredientes
- Área desartificiosa não dimensionada, com ou sem extrato arbóreo significante;
- Espécime feminino fanerógamo gimnospérmico araucariáceo, com ocorrência de infrutescências em favorável estágio de maturação;
- Rejeitos de extremidades arbóreas com órgãos laminares pungentes em adiantado estado de desidratação;
- Estruturas embrionárias araucariáceas em sobejidão;
- Espessos protetores digitais, optativos;
- Receptáculo de faces retangulares provido de hastes com extremidades inflamantes;

Preparo
- Valendo-se da fímbria dos membros superiores com ou sem o auxílio de protetores digitais, colija os rejeitos de extremidades arbóreas com órgãos laminares pungentes em adiantado estado de desidratação, dispersamente prostrados sobre as ciperáceas por ação direta de forças eólicas, e lance-os de mão em minguada área erigindo murundu de eminência não fixada, embora bastante para o inteiro crestamento do universo das estruturas embrionárias que se intenta amealhar. Por mero e exacerbado zelo e com singular escopo impediente de um abrasamento tal que prive a sua exeqüibilidade de consumo, reporte-se que o conjunto de conhecimentos específicos focados no ato objeto deste relato, a se constituir de vantajosa aquisição acumulada pelo exercício histórico desta prática, orienta que seu cume situe-se apropinquadamente a três quartos de milhar de milímetros do nível das ciperáceas.

- Superpostamente ao murundu, precipite aspersadamente as estruturas embrionárias araucariáceas previamente esbagoadas das infrutescências favoravelmente maturadas ou coligidas por entre as ciperáceas circundantes;

- Excite a reação ígnea dos rejeitos monticulares consequentemente à ignescência de uma ou mais hastes com extremidades inflamantes, em disposição geodesicamente propícia aos movimentos eólicos de rajadas, similarmente aos de repiquetes, precavendo-se de inapropriada assimilação bronco alveolar das emanações carbônico-gasosas oriundas da massa incendida;

- Ato contínuo ao completório da atividade ignescente, com o prudente auxílio de ramúsculo de dimensão longitudinal apropriada tal que permita esgaravatar acauteladamente a borralha plúmbea queimosa e as substâncias combustíveis sólidas incandescentes resultantes da combustão incompleta dos materiais orgânicos envolvidos, colija as estruturas embrionárias araucariáceas crestadas e aboque-as, precedendo diligente subtração do cascabulho e breve entibiamento.

Sugestão
- Aprestamento e consumpção em ambiência amical recrudescem o saibo intrínseco.

Saborida apetência!

15 maio 2010

[RE] CLASSIFICADOS – Anúncio republicado para evitar interpretações dúbias

Ano e modelo ‘57, bem rodado, bem conservado, verdadeiro filé, única dona. Estacionado há quase 28 anos na mesma garagem. Motor 5.3 em linha, original e sem retífica, uma raridade, é silencioso, roda macio e carece de cuidados atentos, pois anda em falta no mercado e os exemplares ainda rodando são disputados a tapa por quem valoriza o que é bom. Nenhum vazamento, filtros em perfeito funcionamento, encanamentos sem entupimentos ou danos aparentes. Eventuais escapamentos de gases, pela combustão de mistura inadequada de combustíveis, são considerados normais pelo controle de qualidade do fabricante em função do desgaste natural dos componentes. Estilo robusto, lataria de formas levemente arredondadas, pintura original sem retoques, quase nenhum amassado e com alguns poucos riscos, também originais, conquistados no entusiasmo dos tempos de menor quilometragem. Atualmente, com mais dígitos no hodômetro, é recomendado um uso mais calmo para conservar o bom estado do conjunto motor & carroceria e prolongar ao máximo sua vida útil. Parachoque traseiro intacto, de fábrica, o dianteiro um tanto abaulado, mas nada que prejudique uma boa performance quando exigido. Faróis com acessório ótico para melhoria da visibilidade a curta distância. A aerodinâmica um pouco comprometida pelos pneus de banda larga exige maior perícia na direção, mas responde bem à uma condução firme, mas suave. De fácil manuseio e manutenção simples, seguro nas manobras cotidianas, de desempenho confiável e sem sobressaltos operacionais. Nunca empacou com a suspensão arriada. Nunca deixou sua dona na estrada por falta de combustível. Por motivos óbvios, apenas ocasionalmente é tolerado o uso do motor em alta rotação em percursos muito longos.

Não está à venda, nem sujeito à troca.
Não está disponível para test drive. Nem uma voltinha.
Proibido alisar a lataria se a proprietária estiver olhando.


Nota da Redação: Republicamos este anúncio para dirimir dúvidas e evitar novas interpretações dúbias. Pedimos desculpas aos apreciadores de carros antigos pelas falsas expectativas suscitadas. Mas, como podem perceber, a única diferença entre este anúncio e o publicado ali embaixo é a foto, pois o mesmo texto descreve perfeitamente as duas máquinas. Elas não são o máximo?

06 maio 2010

CLASSIFICADOS

Ano e modelo ‘57, bem rodado, bem conservado, verdadeiro filé, única dona. Estacionado há quase 28 anos na mesma garagem. Motor 5.3 em linha, original e sem retífica, uma raridade, é silencioso, roda macio e carece de cuidados atentos, pois anda em falta no mercado e os exemplares ainda rodando são disputados a tapa por quem valoriza o que é bom. Nenhum vazamento, filtros em perfeito funcionamento, encanamentos sem entupimentos ou danos aparentes. Eventuais escapamentos de gases, pela combustão de mistura inadequada de combustíveis, são considerados normais pelo controle de qualidade do fabricante em função do desgaste natural dos componentes. Estilo robusto, lataria de formas levemente arredondadas, pintura original sem retoques, quase nenhum amassado e com alguns poucos riscos, também originais, conquistados no entusiasmo dos tempos de menor quilometragem. Atualmente, com mais dígitos no hodômetro, é recomendado um uso mais calmo para conservar o bom estado do conjunto motor & carroceria e prolongar ao máximo sua vida útil. Parachoque traseiro intacto, de fábrica, o dianteiro um tanto abaulado, mas nada que prejudique uma boa performance quando exigido. Faróis com acessório ótico para melhoria da visibilidade a curta distância. A aerodinâmica um pouco comprometida pelos pneus de banda larga exige maior perícia na direção, mas responde bem à uma condução firme, mas suave. De fácil manuseio e manutenção simples, seguro nas manobras cotidianas, de desempenho confiável e sem sobressaltos operacionais. Nunca empacou com a suspensão arriada. Nunca deixou sua dona na estrada por falta de combustível. Por motivos óbvios, apenas ocasionalmente é tolerado o uso do motor em alta rotação em percursos muito longos.

Não está à venda, nem sujeito à troca.
Não está disponível para test drive. Nem uma voltinha.
Proibido alisar a lataria se a proprietária estiver olhando.

27 março 2010

Estou a Dois Passos... do Sanatório! [Talvez eu volte, ou fique por lá...]


Prezada Gerente Fulana

No início era o Verbo.

Ao primeiro dia, fez-se a luz!

Ao segundo dia, um lote de terras sem benfeitorias!

Ao terceiro dia, nada foi criado, nem mesmo uma averbaçãozinha titica que seja de qualquer benfeitoria!

Ao quarto dia, assim, do nada, surgiram uma sala de alvenaria, um barracão de madeira e uma casa de venda (sic), cuja retirada foi reservada pelos vendedores! (Oh! dúvida: que benfeitorias são essas que não foram averbadas? E que vendedores são esses, se não há averbação de compra e venda, e o proprietário é o mesmo do início ao fim do documento?)

Ao quinto dia, as benfeitorias, do nada criadas, “... foram todas retiradas do local em tempo oportuno”!

Ao sexto dia, um engenheiro com poderes até então inimaginados, com o auxílio de um pequeno artefato digital, consegue registrar para a posteridade a nítida imagem das benfeitorias solenemente assentadas sobre o terreno, as mesmas que do nada foram criadas e que já haviam sido retiradas do local em tempo oportuno pelos vendedores que nunca existiram, conforme bem consta neste documento escrito e assinado por oficial de registro digno de fé!

Ao sétimo dia, como não poderia ser diferente, descansamos, pois afinal ninguém é de ferro!

Era o que tínhamos a registrar.

Sicrano (pasmo e crente!)

Poucas coisas na vida são tão agitadas, excitantes e estimulantes como a análise documental de processos de financiamento habitacional, incluindo aí a leitura minuciosa, de cabo a rabo, de zilhões de fichas matrículas de inteiro teor[1].  O dia todo, todo santo dia!

___________________
[1] O equivalente à carteira de identidade do imóvel, mais conhecida como ‘a escritura da casa’. Na ficha matrícula o Cartório (ou Ofício) de Registro de Imóveis registra (averba) tudo o que acontece em relação àquele imóvel, como a localização, medidas e confrontações, a construção, ampliação ou demolição de benfeitorias, as transações de compra e venda, constituição de condomínio, doação, inventário, partilha, hipoteca, penhora, etc., e é o único documento que garante, ao dono, a sua propriedade  .

24 janeiro 2010

Deus & Cia Ltda [dois]


“EU DETERMINO EM NOME DE JESUS, QUERO SAÚDE PARA MIM, ESPOSA E FILHOS L.C., M.H. E L.H..
PRECISO QUE O SENHOR HONRE A MINHA FÉ, POIS SOU DIZIMISTA E OFERTANTE DA CASA DO SENHOR JESUS.
NECESSITO DA PROSPERIDADE DE DEUS, POIS É NA ÁREA QUE SOU MAIS PROVADO.
QUERO TER MEU PRÓPRIO NEGÓCIO, QUERO CONQUISTAR OS DONS DO SENHOR, SABEDORIA, AUTORIDADE DA PALAVRA, ADORAÇÃO, DOM DE TOCAR VIOLÃO. QUE SEJA TUDO PARA HONRA E GLÓRIA DO SENHOR DOS EXÉRCITOS.
AMÉM!...”

Este texto não é uma oração, nem mesmo um pedido. É a determinação de uma pessoa que parece cobrar seus direitos de consumidor, a imposição da satisfação dos seus desejos, a exigência do cumprimento de itens contratuais, pois afinal de contas ele é dizimista...

Manuscrito em maiúsculas e ocupando metade de uma folha de caderno universitário, foi ofertado a Igreja (...) junto com a quantia de R$ 400,00 em dinheiro;

Posso estar enganado, mas pelos dons que ele quer ter, aposto que seu objetivo é tornar-se pastor da Igreja, ou fundar a sua própria...

21 janeiro 2010

Deus & Cia Ltda

“A empresa Deus & Cia Ltda - Comércio de Secos e Molhados é especializada no aviamento de receitas de lucro fácil como prosperidade material e sucesso empresarial, de concessão de dons divinos e mundanos, de promessas de cura de qualquer mal físico ou mental, de aquisição de cadeiras numeradas e lotes celestiais, e presta serviço garantido no exorcismo de satanismos em qualquer nível de bestialidade.

A administração comercial e financeira está a cargo de seus sócios minoritários, mas não menos importantes e com larga experiência no ramo, Seu filho Jesus e Seu fiel faz tudo Espírito Santo, para possibilitar ao Sócio majoritário ocupar-se tão somente da administração da mega-super-hiper-premium-plus-master-blaster holding Universo & Eternidade, da qual Ele é o único proprietário e onde acumula as funções de presidente, tesoureiro, secretário, encarregado da limpeza e do cafezinho, gerente de recursos humanos, de marketing, e office boy.

Oferecemos a líderes pastorais estabilidade no emprego e polpudas comissões pela venda de produtos, e atendimento preferencial e descontos especiais a dizimistas e ofertantes da casa do Senhor, seja ela qual for.

Sua satisfação e seu dinheiro são a nossa satisfação!”

Gravura: http://www.saskschools.ca/~gregory/settlers4.html

03 abril 2009

A Arte do Floreado – ou ‘Como Falar Muito Sem Dizer Nada!’

--Mensagem original----­
De:...................... Jocenir
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 12:10
Para:................... Adelaide; Aderiana; Alfonsus; Anaximandro; Badenpaulo; Carlous; Carolyne; Cellio; Darcy; Dyrci; Doniseth; Edsan; General; Edii; Italio; Itamaran; Horje; Joseph; Katina; Luanita; Louis; Marcus; Marildah; Marion; Megan; Raymund; Richardón; Roberio; Rosalena; Soraya; Sândara; Sergitho; Silvanie; Tomazo; Vanderelei; Willianson;
Assunto:............. teste


teste de lista de distribuição - por favor acuse recebimento.

---------------------------------------------------------------------------------------------

--Mensagem original----­
De:...................... Anaximandro
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 12:36
Para:................... Jocenir
Assunto:............. ENC: Resposta ao teste


Caro Joce, o Menir!

É com grande satisfação que acuso o recebimento de sua graciosa comunicação. Aguardo ansioso por novos contatos, tão gratificantes e condutores de indescritíveis, auspiciosos e vitais bálsamos reconfortantes.

Seu criado e discípulo
Anaximandro.


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--Mensagem original----­
De:...................... Jocenir
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 13:55
Para:.................. Anaximandro
Assunto:............ RES: ENC: Resposta ao teste


Insígne e Conspícuo Anaxi

A programação funcional sistemática de uma lista de distribuição centrada na observância perpendicular redirecionada de seus componentes exige uma postura vertical quanto à retroação logística da mesma, é claro que se observada toda a progressividade permissiva de sua estrutura transacional de uma forma em que a planificação bilateral condensada dispensa toda a pompa usada na resposta dessa mensagem, o que acaba ocasionando uma projeção central insumida inócua.

um abraço
Jocenir

---------------------------------------------------------------------------------------------

--Mensagem original----­
De:...................... Anaximandro
Enviada em:...... Quarta-feira, 19 de Abril de 2000 14:23
Para:................... Jocenir
Assunto:............. RES: RES: ENC: Resposta ao teste


Meu guru!

Aos tolos, aos apalermados, aos obtusos e estreitos de visão, aos reticentes à magnitude da sapiência, aos ocos de coração e alma, aos desprovidos de luz e de vontade, aos alijados de qualquer esteio de caráter, aos desesperançosos, aos párias e aos proscritos; aos sedentos de fé, aos ávidos de sabedoria, aos retos de coração mas frágeis de vontade, aos ricos de virtudes mas distorcidos de objetivos, aos humildes mas mal orientados; a todas estas criaturas, todas, sem exceção, reproduzirei tão profundas e magnânimas palavras, e tornar-me-ei signatário e portador de tão sublimes ensinamentos, bálsamos reconfortadores de tantas e dolorosas feridas que assolam nossas almas cansadas e sedentas de luz.

Seu fiel seguidor
Anaximandro.


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[cutuco]
— Quié?
— Disfarça, que o chefe tá olhando!
— Putz!

16 outubro 2008

O Discurso

Discurso proferido na solenidade de formatura do Curso de Ciência da Computação - Sociedade Lageana de Educação. Lages, SC, 08 de março 2003.

É uma grande honra representar meus colegas de curso, e do alto deste palco dirigir a palavra a todos os presentes. Este momento representa muito mais que uma simples formatura. Este é um momento especial em nossa vida pessoal e representa um marco em nossa vida profissional que se inicia.

Senhores, esta é a solenidade de formatura da primeira turma do Curso de Ciência da Computação, o primeiro curso superior da Facvest!
Num país sem tradição de investimento em educação, e menos ainda em pesquisa como é o Brasil, nosso pioneirismo mistura-se ao pioneirismo deste empreendimento corajoso, que é a construção e consolidação de um centro universitário numa das regiões mais pobres do estado. Nossa cidade não se destaca na economia, mas está ao lado das mais importantes cidades do estado no quesito educação com 3 instituições de curso superior que nos fazem pólo educacional da extensa região do planalto catarinense. Um país que não investe na educação perde a soberania, a credibilidade e a esperança de uma vida e um país melhor para seus filhos e netos. Sem a educação nos faltarão as idéias, a confiança e o orgulho de ser o que somos e conseqüentemente perderemos nossos sonhos, substância de que somos feitos e que nos impulsionam e nos fazem seguir adiante e lutar por nossos ideais. Nosso país precisa acreditar e investir na educação de qualidade para seu povo florescer como uma grande nação no futuro.
O futuro nunca é incerto para aqueles que sonham. Com a Facvest plantou-se uma semente cujos frutos engrandecerão seus idealizadores, seus mestres e seus alunos, e farão com que nossa região seja geradora e celeiro de conhecimento, e nós, seus frutos, estamos construindo o futuro desta instituição. Aliás, já somos seu futuro.
E mais que isso: somos os sobreviventes dos 81 alunos que iniciaram o curso em setembro de 1998. Sobrevivemos a noites mal dormidas, a noites não dormidas, a frustrações, inseguranças, sobrevivemos até aos poucos momentos de lucidez em meio à loucura de trabalhos, provas, programas que não rodavam, nos quais nos perguntávamos: onde foi que eu me meti? Mais do que ninguém, a Ciência da Computação nos ensina, a duras penas, que verdades são efêmeras e mutáveis. Que fria e exata deve ser nossa ferramenta de trabalho, não nossa forma de pensar. Mais do que ninguém, a Ciência da Computação nos ensina que devemos conhecer o cálculo, mas nossos clientes são pessoas, não números. E que a tecnologia está a serviço da vida, deve prover, facilitar, proteger, e que o homem é seu criador, não sua criatura.
Hoje, muitos podem montar computadores, editar textos, até desenvolver programas, mas poucos podem projetar redes, administrar bancos de dados ou compreender as necessidades dos clientes e desenvolver soluções apropriadas. Se a tecnologia facilita o uso de computadores a qualquer pessoa, é porque cientistas da computação estudaram, pesquisaram e trabalharam arduamente para isto. Este agora também é o nosso trabalho.
Somos sobreviventes e vitoriosos.
Nada em nossa vida é por acaso, e esta vitória nos custou muito. Ela não caiu do céu, nem nos foi ofertada de bandeja. Por isso temos que valoriza-la. Por isso precisamos a todo custo fazer com que a Facvest seja respeitada como uma instituição que oferece ensino de qualidade, para que nosso diploma também seja valorizado e respeitado. Esta é uma tarefa conjunta: de um lado a instituição oferecendo as condições necessárias para a qualidade no ensino e na pesquisa, e de outro, alunos também comprometidos com um aprendizado de qualidade, e com uma pesquisa séria. Este é o nosso desafio, graduandos e bacharéis: fazer a nossa parte, buscar sempre o melhor de nós, dedicar ao nosso trabalho desvelo de obra-prima, para que nossas obras reflitam qualidade, confiança e segurança. Assim, com certeza teremos orgulho de nossos diplomas, e tudo o mais virá por acréscimo.
Falando em vitória, é preciso dizer que ela não é somente nossa. É também de todos os que conviveram conosco nestes 9 semestres e com seu apoio incondicional participaram do nosso esforço em chegar até aqui: nossa família, nossos amigos, nossos professores. Mas principalmente, nossa vitória é de pessoas muito especiais para nós, porque começaram conosco esta jornada e por um motivo ou outro não estão neste palco. São os colegas que sentaram-se ao nosso lado, partilharam trabalhos, orientaram nossas dúvidas, resolveram problemas, e se dependesse de nós estariam aqui em cima conosco. Nominando alguns poucos, quero homenagear a todos eles: Lawrence, Andréia, Patrick, Pelego, Cristiano, Alexandre, Emílio, Zóio, William, Leslie, Rondinele, obrigado a todos, estaremos em suas formaturas, nossa vitória também é de vocês.
Aproveitando-me do fato de ser o orador, peço a todos que por favor perdoem meu egoísmo, mas falarei agora um pouco sobre mim. Quero compartilhar com todos a emoção que senti há quase cinco anos quando fui acolhido por estes meninos e meninas como se fosse um deles, como se fizesse parte da turma deles desde sempre. Egoisticamente, quero dizer a todos que muito cresci como pessoa e como cidadão, alimentado pelo convívio diário com criaturas como estas, de corações tão generosos. Quero revelar que o tempo em sua marcha inexorável deixou marcas em meu rosto, mas também permitiu que meu coração remoçasse pela alegria cativante de seus espíritos juvenis. Que tive ampliados meus horizontes pela visão aberta e sem medos destes jovens lutadores, e renovada minha crença num futuro melhor para nossos filhos e netos pelos sentimentos de justiça e fraternidade destes jovens cidadãos. Sem pudor, confesso que tive alimentado meu ânimo e vigor pela sua mocidade impetuosa, e assim busquei a força que necessitava para poder acompanhá-los. Alimentei minha alma e meu intelecto com suas sapiências e conhecimentos, e assim consegui a serenidade e o raciocínio que me tornaram um igual. Naquilo que somos, temos um pouco de cada um, e de todos. Cada um de nós, a seu modo, contribui com o que tem. E de vocês, tenho o que vocês têm de melhor. Para mim é uma honra e um privilégio tê-los como amigos.
Acreditem, daqui a muitos anos ainda falaremos da quietude e sabedoria do Elias, sempre nos surpreendendo com a entrega dos trabalhos na data certa, da esperteza e da paixão vascaína do Gilberto divertindo a turma do fundão (deixe quieto), da timidez e do capricho da Andréa, com sua presença calma e sem malícia, e da amizade e lealdade do Luís entretendo-nos com suas histórias (ele é estranho, mas muito divertido). Ah! E com certeza também falaremos com saudade daquele fantástico churrasco, oferecido pelo Luís, ao pé de uma cachoeira lá em Urubici. Foi ótimo, vocês lembram?
Como primeira turma do Curso de Ciência da Computação da Facvest sempre abrimos caminhos, e continuaremos a fazê-lo, com certeza. Saímos daqui com a sensação do dever cumprido, do sonho realizado. Que possamos honrar a educação e a dedicação que recebemos de nossos pais. Que possamos ser bons exemplos para a sociedade, como pessoas íntegras e como profissionais éticos e honestos.
Hoje tudo termina, e no entanto estamos apenas começando...
Parabéns e boa sorte a todos nós. Muito obrigado!

24 dezembro 2007

Viagem no Tempo

O exemplar nº 0 (zero) da revista Superinteressante foi publicado em setembro de 1987 com poucas páginas e apenas 3 matérias, pois era uma apresentação da revista propriamente dita que seria publicada no mês seguinte. Em meados de 1988 eu fiz a assinatura da revista, que mantenho até hoje, apesar de ter à minha disposição uma coleção de CD’s com todas as edições desde o início até junho de 2005, lançados em comemoração aos 18 anos da revista. Do lançamento à assinatura, adquiria os exemplares na banca.
No ano de 2000, com a intenção de organizar e proteger as revistas resolvi acondicioná-las em pastas do tipo Polionda, e neste trabalho descobri que faltavam seis edições na coleção. Em poucos meses, encontrei cinco delas em sebos da cidade. Hoje, dia 21 de dezembro de 2007, após quase sete anos de busca, encontrei a única edição que ainda me faltava, a nrº 3, coincidentemente publicada em dezembro de 1987, há exatos 20 anos! Como acontece todo mês ao receber o exemplar da revista, mas com o sabor especial de ter em mãos uma raridade e a satisfação de tê-la encontrado, devorei a edição em pouco mais de uma hora.
Na seção Grandes Idéias, a matéria ‘O computador’ conta resumidamente em duas páginas a história da máquina que começava a se tornar conhecida do grande público, do usuário leigo, e a entrar em suas casas nas suas versões mais primitivas, e na seção Cartas dos Leitores depoimentos da adida de imprensa do Consulado Geral dos EUA em São Paulo e do ministro da Ciência e Tecnologia elogiavam a iniciativa da Editora Abril e a qualidade da revista.
Mas em uma matéria de tecnologia, ‘O Computador Levanta Vôo’, experimentei a sensação ímpar de comprovar o acerto – e também o desacerto – de algumas afirmativas e previsões. O texto fala de um supercomputador instalado na NASA que simula testes de aviões, o Cray-2, com 8 processadores, clock de 2 GHertz e memória de 256 MB, que esquentava tanto para realizar seus cálculos que a refrigeração era feita com fluido de Fluorcarbono (ou fluourinert), o mesmo utilizado em transplantes de coração, escolhido por ser incolor, inodoro, atóxico, não inflamável e ter alta estabilidade térmica e capacidade de transferência de calor. Este fluido circulava entre os circuitos para captar o calor e depois de resfriado em uma unidade externa retornava ao equipamento, mantendo assim a temperatura em níveis aceitáveis, exatamente como é feita a refrigeração dos motores dos nossos carros. Na época existiam uns trezentos supercomputadores, dos quais apenas 27 Cray-2, concentrados nos Estados Unidos, Canadá, Japão e países da Europa, que não vendiam para ninguém, e quem não tinha, esperava a vez para poder comprar. No Brasil havia pelo menos 6 empresas e instituições de pesquisa interessadas, da Petrobrás ao CTA – Centro Técnico Aeroespacial. O interessante é que este supercomputador, que custou quase 20 milhões de dólares à NASA, era 16 vezes mais lento e tinha 8 vezes menos memória que o micro com o qual escrevo este texto.

Supercomputador Cray-2 e módulo de resfriamento expostos no Computer History Museum, em Mountain View, Califórnia, USA.

Sobre a simulação dos testes de aviões, a matéria cita o projeto do Expresso do Oriente, inspirado num velho sonho americano, o X-30, que voaria a 30 mil quilômetros por hora e que, além de avião comercial, substituiria os ônibus espaciais do tipo Challenger. O Expresso do Oriente foi projetado para transportar 500 passageiros, voar a 17.000 Km/h, ou 14 vezes a velocidade do som (match 14) e ligar Washington a Tóquio em três horas, treze a menos que os jatos atuais, até o ano 2000!

Ilustração: Revista Superinteressante, pág. 30, edição nr. 3, dez 87

A realidade mostrou-se bem menos audaciosa, pois o maior avião comercial voando atualmente, vinte e sete anos após a previsão, é o A380, que transporta mais de 800 passageiros, mas com velocidade muito inferior à match 14 do Expresso! Os dois maiores limitadores da imaginação dos projetistas de aeronaves, além do custo, são o barulho gerado pelos motores e o alto consumo de combustível. O maior exemplo que temos é o fracasso comercial do Concorde, cujo último exemplar em operação encerrou as atividades em outubro de 2003, e hoje é visto apenas em museu. Ele era autorizado a voar acima de match 1 apenas sobre oceanos e grandes áreas desabitadas, como os desertos, por causa do barulho, e consumia 20.000 quilos de querosene por hora de vôo transportando apenas 100 passageiros, contra os 350 passageiros que o Boeing 747 transporta consumindo bem menos combustível.
As grandes realizações do homem nascem com um sonho, e não custa sonhar. Mas custa realizar, e por isso um sonho pode ser adiado por muito, muito tempo, até tornar-se realidade. Quem viver, verá!

16 dezembro 2007

Verborragia é isso...

Que o bimbalhar dos sinos
e o tresloucar dos gargalhões
imantem os eflúvios cumulativos peremptórios
para os perpassares antológicos
das excelsas veredas pinaculares!
Ora, se.
Adesivo colado no vidro traseiro de uma Caravan estacionada em rua central de Florianópolis em janeiro de 1978. A tradução conservadora do texto é "Feliz Natal". Há quem queira acrescentar "...e Próspero Ano Novo", mas assim também já é demais...

04 dezembro 2007

Nós Merecemos o que Queremos?

Crítica a respeito da decisão dos empregados da Caixa, agência Lages/SC, durante a greve de 2005, de interromper a paralisação iniciada apenas um dia antes. Lages, SC, outubro 2005.

Em abril deste ano recebemos pelo CaixaM@il uma mensagem do nosso colega Nelson Guimarães na qual transcrevia o texto de Aldo Novak, sobre frase de James Allen: “Por que? Por que não? Por que não eu? Por que não agora?". Naquela época, chamou-me a atenção pela sua simplicidade e pela lógica do raciocínio.
No curso de computação somos sistematicamente orientados a pensar logicamente. As coisas na nossa cabeça com o tempo tendem a se resumir em [uns e zeros], [se isto então aquilo], [falso ou verdadeiro]. Mas, claro, nem tudo é lógico. Aliás, pouca coisa o é. Gente é ilógica! Talvez isso explique o estigma que persegue e rotula como fora da casinha os que se dedicam em tempo integral à ciência informática. Para estas pessoas, é tão difícil entender e aceitar a imponderabilidade das coisas e das pessoas, que estes malucos preferem o isolamento das linhas de código e dos compiladores ao convívio pernicioso do pensamento não lógico. Ainda se fosse não pensamento lógico, vá lá...
Lembrei daquele texto hoje, ao sair da nossa assembleia que decidiu pela interrupção da greve.
Mesmo sem a preocupação com a sistemática, e sem nem nos darmos conta, na semana passada acabamos seguindo o roteiro sugerido: — Por quê? Por que estamos reunidos? Para questionar nosso presente, e discutir nosso futuro, com certeza. O que temos hoje é suficiente? É o que precisamos? É só o que a Caixa pode nos oferecer? Pior: será que é só o que merecemos? E o que queremos para nós amanhã? Sobrevivermos, simplesmente? Queremos mais dignidade, pelo menos. Mais respeito. Queremos ser ouvidos, e ser valorizados. Nada de extraordinário, só o básico. Tipo assim, pagar as contas em dia, entende? — Por que não? Por que não dizer à Caixa da nossa insatisfação, da nossa discordância? Se a Caixa mexe há tanto tempo no nosso bolso, por que não podemos mexer no bolso da Caixa? Assim seremos ouvidos, com certeza. Por que a Caixa ofende nossa inteligência ao negar um reajuste mínimo, ao mesmo tempo em que alardeia um lucro bilionário no primeiro semestre do ano? Por que temos que acreditar que quatro por cento é tudo que pode ser dado? Por que não usarmos do recurso mais radical ao nosso alcance? Por que não entrarmos em greve? — Por que não nós? Se a adesão à greve ainda não é consistente, por que não fazermos a nossa parte, mesmo que para isso tenhamos que dar o primeiro passo? Por que não podemos ser a primeira agência a fechar no interior? Por que temos que esperar pela iniciativa de Florianópolis, Chapecó, Santo Antônio da Boa Vista, Icó, Brasília ou Santana do Parnaíba? Se é o que queremos, e no que acreditamos, por que não podemos fazer? — Por que não agora? Se não fizermos nossa parte porque outro ainda não fez a sua, corremos o risco de ficarmos esperando uns pelos outros, e nada ser feito. Por que não fazemos nossa parte agora? Estaremos dando exemplo para quem espera por um, e ao mesmo tempo estaremos dizendo estamos com vocês àqueles que tomaram a iniciativa antes de nós. A força do todo é a soma do esforço de suas partes. Por menores que elas sejam.
Tomamos uma decisão madura. Cumprimos os compromissos assumidos com as gerências. Negociamos as situações imprevistas. Paralisamos a agência na segunda-feira, dez de outubro, como nunca havia sido feito, e sem tropeços, sem tumulto e sem um desgaste significativo. Fomos conscientes e responsáveis na execução daquilo que responsável e conscientemente decidimos. Mas no final da tarde...
Na minha opinião, fizemos tudo certo. Tomamos a decisão de parar, paramos, demos o nosso recado com competência. Com certeza encorajamos a parar muitos que esperavam pela iniciativa de alguém. Demos o exemplo. Chamamos para que nos acompanhassem, da mesma forma que nós abraçamos os pioneiros das capitais, parados desde a semana passada. Só que agora, mesmo sabendo da possibilidade de paralisação de várias unidades do estado, a decisão tomada em nossa assembleia do final da tarde foi de interromper a greve!
Agora passam alguns minutos das duas horas da manhã de terça-feira. Não sei o que vai acontecer hoje nas outras agências, nas outras cidades, nos outros estados. Pelo menos para mim, não importa se vão parar ou não. Independente do que aconteça em âmbito nacional, sinto que o que fizemos não passou de fogo de palha. Faltou-nos a coragem, não acreditamos o suficiente, talvez. Não cabe a mim – nem a ninguém – questionar a decisão de nenhum dos colegas presentes na assembleia. Não tenho este direito, cada um sabe os motivos da decisão que tomou – a de manter a greve, a de interrompê-la, a de abster-se também, e esta decisão deve ser respeitada por cada um de nós. O problema é que não conseguiria dormir sem externar o sentimento de frustração que me assolou, por não conseguir entender por que paramos no nosso melhor momento. Apelei para a lógica, e mesmo assim não encontrei uma resposta. Provavelmente porque não haja apenas uma resposta. Talvez ainda precisemos do exemplo e da iniciativa dos outros para apoiar nossas decisões. Talvez não sejamos maduros e conscientes o suficiente para saber o que queremos. Talvez mereçamos mesmo só o que a Caixa nos oferece.
Acenamos com um caminho, e nos contentamos com um atalho.
Alexandro Reis.
(11out2005)