24 abril 2011

A Insanidade Não Tem Idade

Antigamente era comum viajarmos com a família completa e o carro abarrotado, quase sempre para a praia, onde desfrutávamos de alguns dias juntos. Os filhos eram pequenos, a disposição era grande, qualquer coisa era motivo de festa – para eles, claro – e o retorno exigia mais uma semana – de nós, claro – para recuperarmos a saúde física e mental. Os filhos foram crescendo, as viagens e atividades em família foram rareando e, antes que percebêssemos, estávamos enfurnados em casa criando limo. Depois de uma eternidade sem que a família estivesse reunida novamente em alguma atividade fora do habitual marasmo, eis que, de caso pensado, no dia 21 de abril fomos jejuar em um parque de aventuras radicais.

Jejuar sim, pois saímos de casa ali pelas onze da manhã, sob céu enfarruscado numa manhã em que já havia chovido, em direção ao Adventure Park, e do qual voltamos perto das sete e meia da noite depois de passar o dia a água e água, afinal até as bolachas Maria deixamos no carro estacionado na portaria.

A esposa, que teve a idéia do passeio, e eu dispensamos o rapel, a escalada e o trecking por absoluta falta de emoção, e encaramos o pacote mais radical:

– Via Ferrata, um conjunto de cabos e pinguelas balançantes suspensas entre as rochas a alturas suficientes para tremer os joelhos enferrujados, e que termina numa plataforma pendurada num pinheiro araucária feito casinha na árvore, só que a 20 metros de altura e sem cerquinha, de onde só se desce praticando rapel;

– Punk Jump, o Pêndulo – ou, a insanidade – onde criaturas sem  cérebro  noção (eu, no caso!) balançam feito ioiôs entre paredões de pedra gritando desesperadamente, pendurados num cabinho de aço preso noutro cabinho de aço atravessado entre as rochas; ATUALIZAÇÃO: O proprietário (na época) do parque, que construiu e instalou todas as atrações do parque, e que também era quem operava os equipamentos do Punk Jump e pode ser ouvido, no vídeo, dando as instruções a mim antes de liberar o pêndulo, era o empresário e esportista radical Lucas de Zorzi, falecido em 11/10/2020, em acidente em uma escalada no Canion Espraiado, na serra catarinense.

– Tirolesa, que obviamente tinha que ser uma das maiores do Brasil, com 1200 metros de extensão e 150 metros de desnível, onde por mais de um minuto se despenca numa velocidade em torno de 70 km/h, dependendo da massa corporal do destrambelhado que se atirou lá de cima, da plataforma entre as rochas. Nos cálculos do carinha responsável por segurar o infeliz para que não se arrebente lá onde os cabos terminam – sim, a viagem é longa, mas os cabos não são presos no infinito, eu passei dos noventa por hora! Indignado por ter sido chamado de gordão, perguntei como ele podia saber, se não tinha velocímetro nas rodinhas nem radar móvel apontando para mim, e ele candidamente respondeu que sabia porque queimou as mãos para segurar a corda que funciona como freio. A esposa e uma das filhas, que assistiram de camarote a minha chegada, confirmaram que saiu fumaça da luva de couro que o carinha usava. Preciso de um spa, urgente!

Um outro tipo de emoção para quem escala as rochas do parque é a visão que se tem da ‘sala de espera’ do pêndulo, também de tirar o fôlego. À direita, pequenas propriedades e hotéis de turismo rural, são dois até a entrada do parque, e à esquerda os paredões de pedra que ladeiam o cânion onde alguns minutos depois estaríamos pendurados balançando e gritando palavrões!

– E, por fim, o passeio de quadriciclo que pode até não ser assim tão radical, mas que exigiu muito cuidado, alguma perícia e uns quinze minutos corcoveando pela estrada íngreme, molhada, escorregadia e cheia de pedras e valetas entre as árvores, para subir novamente todos aqueles 150 metros de desnível que tínhamos acabado de descer pela tirolesa! Como éramos  as últimas vítimas    os últimos  desmiolados    os últimos  suicidas    os últimos clientes do parque, na volta pediram que levássemos os quadriciclos ao hotel fazenda perto dali onde eles são guardados à noite, e voltamos de Land Rover até onde estavam estacionados nossos carros.

Voltaremos, na primeira oportunidade.

8 comentários:

  1. A paisagem é muito bonita. Poderia até dizer que é a minha favorita, mas esta coisa de se submeter a centrifugações variadas não faz o meu gênero.
    Um abraço do Beto

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  2. Amei! Eu quero... hehe

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  3. Beto, a adrenalina faz milagres...

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  4. Nat, é muito bom! E com torcida, é melhor ainda. Estávamos em nove, isso significa que enquanto um despencava, os outros oito faziam coro na gritaria. Vale a pena! =)

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  5. Rapaz, que beleza!
    Tempos sem passar por aqui, deu até vergonha do sumiço.
    Abração a diminuir a distância, pelo menos a temporal

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  6. Grata surpresa, Ricardo!
    Não se aperreie, meu amigo, nunca é tarde para uma boa prosa e um amargo. Ou um bom café, no seu caso... =)
    Um quebra costela de volta e meia!

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  7. muito bom, o evento e o relato de craque
    =)

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  8. Pax, você sabe que conforto e rotina matam.
    A aventura nos fez muito bem, nos divertimos bastante, como há muito não acontecia. E eu, pelo menos, mesmo sem saber, precisava demais duma chacoalhada dessas!

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