05 agosto 2010

Intercâmbio Culinário

No mês de junho recebi o convite de uma amiga, por email, para participar de um intercâmbio de receitas culinárias. Como decididamente não sou conhecido pelos meus dotes culinários, fica claro que só recebi o convite porque ela precisava enviar para 20 pessoas para não quebrar a corrente. O curioso é que, apesar da minha mediocridade panelística, por algum motivo que desconheço sou constantemente solicitado por amigos cozinheiros, e até pela minha mãe e minha sogra, a experimentar o tempero dos pratos principais que estejam fazendo. Infelizmente, minha fama nas redondezas não passa disso, um mero provador de tempero.

Apesar disso, se precisar cozinhar não morro de fome. Meu conhecimento de cozinha, porém, resume-se a pratos simples, rústicos, que não exigem receitas escritas e que aprendi fazendo ou perguntando como fazer, e apenas em ocasiões específicas, invariavelmente envolvendo os amigos. Além dos pratos básicos como misto quente, sopa de caneca e ovo frito, consigo preparar sem muita dificuldade uma macarronada, arroz com galinha, arroz com lingüiça, paçoca de pinhão, carreteiro, bife no disco com legumes e verduras, peixe frito, churrasco... ou seja, todos pratos bem aceitos pela maioria das pessoas, e nada muito elaborado.

Mas aquele convite mexeu com os meus brios. A busca por uma receita especial para a minha amiga me fez pensar na relação que tenho com as panelas, e como este relacionamento interfere na rotina das formigas cortadeiras que fazem ninho nas trincas da calçada, daí percebi que não posso passar o resto da vida como provador oficial do tempero do prato dos outros – atividade de alto risco, por sinal. Resolvi, então, investir na minha imagem gourmética, e saí à procura da receita ideal. Optei por um prato típico das regiões de altitude aqui do sul, bem tradicional, preparado desde a era sapozóica, mas os poucos relatos que encontrei não estavam à altura da importância dos meus objetivos ego-culinários. Por isso, passei os últimos 47 dias redigindo com muito esmero esta receita, que acredito será do agrado dela, pois, como se pode perceber, é um prato muito simples, de poucos ingredientes e de facílimo preparo.


Crestamento de Estruturas Embrionárias Araucariáceas

Ingredientes
- Área desartificiosa não dimensionada, com ou sem extrato arbóreo significante;
- Espécime feminino fanerógamo gimnospérmico araucariáceo, com ocorrência de infrutescências em favorável estágio de maturação;
- Rejeitos de extremidades arbóreas com órgãos laminares pungentes em adiantado estado de desidratação;
- Estruturas embrionárias araucariáceas em sobejidão;
- Espessos protetores digitais, optativos;
- Receptáculo de faces retangulares provido de hastes com extremidades inflamantes;

Preparo
- Valendo-se da fímbria dos membros superiores com ou sem o auxílio de protetores digitais, colija os rejeitos de extremidades arbóreas com órgãos laminares pungentes em adiantado estado de desidratação, dispersamente prostrados sobre as ciperáceas por ação direta de forças eólicas, e lance-os de mão em minguada área erigindo murundu de eminência não fixada, embora bastante para o inteiro crestamento do universo das estruturas embrionárias que se intenta amealhar. Por mero e exacerbado zelo e com singular escopo impediente de um abrasamento tal que prive a sua exeqüibilidade de consumo, reporte-se que o conjunto de conhecimentos específicos focados no ato objeto deste relato, a se constituir de vantajosa aquisição acumulada pelo exercício histórico desta prática, orienta que seu cume situe-se apropinquadamente a três quartos de milhar de milímetros do nível das ciperáceas.

- Superpostamente ao murundu, precipite aspersadamente as estruturas embrionárias araucariáceas previamente esbagoadas das infrutescências favoravelmente maturadas ou coligidas por entre as ciperáceas circundantes;

- Excite a reação ígnea dos rejeitos monticulares consequentemente à ignescência de uma ou mais hastes com extremidades inflamantes, em disposição geodesicamente propícia aos movimentos eólicos de rajadas, similarmente aos de repiquetes, precavendo-se de inapropriada assimilação bronco alveolar das emanações carbônico-gasosas oriundas da massa incendida;

- Ato contínuo ao completório da atividade ignescente, com o prudente auxílio de ramúsculo de dimensão longitudinal apropriada tal que permita esgaravatar acauteladamente a borralha plúmbea queimosa e as substâncias combustíveis sólidas incandescentes resultantes da combustão incompleta dos materiais orgânicos envolvidos, colija as estruturas embrionárias araucariáceas crestadas e aboque-as, precedendo diligente subtração do cascabulho e breve entibiamento.

Sugestão
- Aprestamento e consumpção em ambiência amical recrudescem o saibo intrínseco.

Saborida apetência!

11 comentários:

  1. Anônimo5/8/10 20:16

    Ai caramba....Eu sugiro uma bebida com esta coisa...ou vai ser muito dificil de engulir!!!!

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  2. Anônimo5/8/10 20:17

    O anonimo acima e' o TIUSpe

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  3. É... percebi que era o Tiúspe!
    Pois olha, acho que um(ns) goles de pura ajudam uma barbaridade!

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  4. Bom, não vai dar prá te indicar pro Prêmio Bom Gourmet, mas eu já decidi. Meu voto na ABL vai para Colafina & Cascagrossa.
    Fico aqui curiosa prá saber quanto dessa receita o Torero vai entender. Ele não é das alturas, mas conhece bem esse fruto araucariáceo, que por sinal, eu nunca, jamais, consumi.

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  5. Ahahah... o CF&CG na ABL foi boa...

    Pois é, Raquel, a região litorânea onde o Torero nasceu, cresceu e até hoje mora é desprovida de espécimes fanerógamos gimnospérmicos araucariáceos, mas acredito que ele conhece o prato, senão de prepará-lo e saboreá-lo, pelo menos de relato e foto!

    E nunca é tarde para experimentar. Além desta receita, recomendo a paçoca de pinhão, é uma delícia!

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  6. Cola, estou eu hoje viajando ao longo da BR 421, indo em direção ao interior do interior de Rondônia, estradão de terra, admirando tudo em volta e querendo fotografar apesar da velocidade do ônibus, e o que vejo lá, entre mangueiras e outras árvores??? ela, sim, ela. Um espécime de "Araucária angustifolia" em plena Amazônia. Algum paranaense saldoso a plantou lá uns 30 anos atrás e a danada vingou. Eu fotografei, mas não sei se vai dar prá ver. O visor da minha máquina não é aqueeeeele visor, e o ângulo em que eu me encontrava não era bom. Se ficar visível, colocarei lá no Pan.

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  7. Cristina9/8/10 22:52

    Isso me lembrou as aulas de Biologia do Professor Ernesto Daniel, com este jargão que tínhamos que ter na ponta da língua para pelo menos tirar um 5 em suas provas

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  8. Raquel,
    Fiquei curioso para ver o pinheiro de Rondônia, tomara que a foto fique boa...

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  9. Cris,
    Tudo isso para ganhar só um 5 na prova??? Que judiaria... ahahaha
    Gostei de te ver por aqui, apareça mais vezes!

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  10. Pois entao cola,falando de pinheiro em outros lugares lugares...quero ver se nestes proximo dias tiro uma foto de um "pinheiro" que vi aqui em Oberursel...Tem uma certa personalidade diferente do que estou acostumado na regiao de Lages...voce vai ver.
    Voce sabe que existe um pais da america latina aonde uma regiao tem araucarias,e a "tribo" faz um festival das sementes???? Um dia destes ainda vou descobrir aonde e como!!!Tiuspe

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  11. Ôpa! Um espécime araucária angustifolia alemão? Manda lá, seu Tiúspe, temos que estudar a sua personalidade. A dele, não a sua! ahahah

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